Cecília, Deus já te perdoou, nós duas sabemos bem disso,
sei que é vergonhoso, mas na época você estava machucada, hoje
porém nós sabemos que as coisas são bem diferentes, se preferir
podemos parar por aqui, mas eu gostaria que você continuasse
com a tua história, se puder responder‑me, eu gostaria de saber
quando se deu início às crises conjugais que deram fim ao teu
casamento.
É verdade Tânia! Você tem razão! Eu realmente sinto‑me
envergonhada até hoje por ter um dia rejeitado o Senhor, mas,
vamos lá, em 1998, cinco meses antes da separação entre Cláudio
e eu, no dia em que a minha princesa veio ao mundo, todos
estavam preocupados comigo, pois eu estava no final do sexto mês
de gestação, entrando em trabalho de parto prematuro, gerava em
meu ventre uma criança hidrocéfala. A hidrocefalia é, de forma
genérica, a acumulação de líquido cefalorraquidiano no interior
da cavidade craniana, que por sua vez faz aumentar a pressão
intracraniana sobre o cérebro, podendo vir a causar lesões no tecido
cerebral e aumento e inchaço do crânio, uma enfermidade muito
grave, e como eu estava entrando no sétimo mês de gravidez, a
incerteza de sabermos se ela sobreviveria ou não trouxe muita
insegurança para os meus amigos próximos e para minha mãe,
pois não sabiam se eu suportaria a perda de um filho, por isso
sentiam‑se aflitos e temerosos embora tentassem transmitir‑me
força e coragem. Cláudio não estava presente no hospital naquele
momento, há dias ele estava estranho, distante. Minha mãe, a
mulher que eu rejeitei em meu coração durante minha infância
e adolescência, estava ali, segurando em minhas mãos, me dando
o apoio que eu precisava enquanto eu vinha conduzida pelos
enfermeiros do hospital Manggiagalli de Milão até à sala de parto.
Eu estava desesperada e aflita, sentia muito medo de perder minha
filha e tudo o que eu sabia dizer era: “Salvem a minha filha.”