Mulheres feridas, nas mãos do Senhortornando uma couraça forte que ela encontrou para se esconder
e se defender. Assim ela foi se tornando uma mulher fria, sem
sentimentos, amarga e vingativa, que passou a odiar a sua rival
com todas as suas forças, determinada em fazer dos dias de Ana
um inferno, acreditando que se ele não fosse dela também não
seria de mais ninguém.
Penina não pôde simplesmente dizer basta, ela não pôde gritar,
virar a mesa, chutar o balde, ela não pôde simplesmente dizer ok,
agora eu quero o divórcio, quero ser livre, quero ser feliz, não pôde
dizer, morto um papa se faz outro, como o ditado popular, ela não
pôde dizer, avante o próximo, ou arrumar outro e passar na cara de
Elcana para enciumá‑lo. Penina teve que engolir seco e sem açúcar
a falta de amor de seu amado. Ela não tinha televisão para distrair a
cabeça com tantos programas educacionais (ironicamente falando)
que vemos quotidianamente sobre sexo pervertido dando‑lhe
dicas de como conquistar seu homem, e de como trair e se vingar
com êxito, também não tinha os famosos círculos de oração da
igreja, onde ela poderia ir aos sábados pela manhã desabafar e falar
mal da sua rival, também não tinha ninguém que pudesse orar
com ela, amenizando a sua dor.
Quem sabe não tenha encontrado nenhum profeta que lhe
tenha dito que a vitória seria dela caso continuasse orando, também
não teve uma página social na internet na qual ela postava tudo
que lhe vinha na cabeça a fim de desabafar em rede pública todas
as suas neuroses.
O que eu sei é o que a Bíblia relata, e é bem pouco, mas que foi
suficiente para me mostrar que Penina era uma mulher ferida que
precisava ansiosamente de socorro, e que em nenhum momento
ela demonstrou querer ajuda.