ELISA-BERNAL-MINHAS-CONVERSAS-COM-ALEGRÍA (1)

(MARINA MARINO) #1

E: Mas, na realidade, tudo o que se tem que passar, a gente tem
que passar. Logo pensei: isso deve ter acontecido comigo para que
eu veja o quanto estou paranoica com isso de hospital. Mas que
me quebraria outro braço está no carretel também, não? O
curioso, é que outra vez me é mostrado que, se com um braço eu
já me queixava de não poder fazer as coisas, quando eu vejo que
não tenho disponibilidade com nenhum braço é que percebo a
vantagem de ter pelo menos um em boas condições. E é aí que
vejo que não sou tão ruim com um braço e que posso fazer muitas
coisas com esse braço. Sem ser capaz de usar nenhum dos dois, aí
sim é que eu não poderia fazer nada.


A: Você pode fazer com um braço tudo o que pode ser feito com
um braço.


E: Que são muitas coisas. Além disso, como eu consegui, usei-o
cada vez mais. Mas, sem os braços, percebi que não podia fazer
nada. Como eu não nasci sem braços, vi que com os pés não podia
aguentar-me. Além disso, só restava um pé com mobilidade. Eu
me perguntei: E eu ainda terei que experimentar isso? Porque já
era demais... O que está acontecendo? E você se pergunta: por que
isso está no meu carretel?


A: Porque é experimentado pela consciência.


E: Experimentado pela consciência dentro do personagem, não?


A: Você que se identifica com o personagem.


E: Mas que necessidade tem a consciência de experimentar isto
ainda?


A: Nenhuma.

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