ELISA-BERNAL-MINHAS-CONVERSAS-COM-ALEGRÍA (1)

(MARINA MARINO) #1

E: Sim, porque o despertar te leva a esse estado, não? Por isso
dizemos “Eu quero ser livre, quero liberar-me”. Mas o que é a
liberação?


A: Mas livre de que?


E: Do personagem.


A: O personagem jamais será livre. Ele é um personagem, é uma
figura sonhada. Como pode ser livre? Livre de que?


E: De sua atadura mental, de sua mente.


A: Ah! Mas, para isso basta com que ele veja o sonho como sonho.


E: Mas há quem o vê e, mesmo assim, não se libera. Eu mesma.
Fico aprisionada e volto a entrar no filme, acredito eu, porque a
sociedade, este mundo ou este sonho te obrigam, de certo modo.


A: Bem, uma vez que você tem claro que tudo isso tem lugar
dentro do sonho, não sei. Um sonho não pode ser livre, quem
busca a liberdade? A única coisa que você pode fazer é dar-se
conta de que isto é um sonho. Essa é a liberação, o dar-se conta.
Não há nada que fazer, nada que mudar.


E: E isso dura para sempre?


A: Não. Uma vez que o corpo termina, o sonho acaba.


E: E o estado de ser livre, ou de sentir-te mais livre, perdura?


A: Não, não. Não se trata mais de ser livre, mas de dar-se conta de
que não há nenhuma liberação, porque não há nenhuma
escravidão.

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