A: Sim, sim, por que não? Esse choque pode servir como um
gatilho. Já que você não se dava conta, a vida te oferece essa
possibilidade para que você desperte. Por que não um choque?
E: Então eu não faço nada, você não fará hoje uma paella.
A: Eu não vou fazer. A paella se fará.
E: Está bem, mas você terá que prepará-la.
A: Isso eu descobrirei no momento certo, não sei.
E: Então é um projeto, não?
A: Sim, porque, em primeiro lugar, não sei se estarei vivo dentro
de três horas.
E: Bem, é fantástica tua maneira de encarar a vida.
A: Não, fantástica não. Simples.
E: Para mim não é fácil, porque sempre estou no “fazer”: quero
fazer, vou fazer, não me dá tempo de fazer. E agora que estou tão
lenta, ainda é mais estressante, porque não chego, me falta tempo.
E vem você e me diz que não faço nada. Acaba com todos os meus
esquemas.
A: Mas, o fato de não haver um fazedor, não significa que você não
esteja ativa.
E: Viu! Isso é contraditório.
A: Contraditório para a mente, para a lógica. O fato de não haver
fazedor não impede que você se levante de manhã e prepare o
café.