conta a partir do aparecimento de seu corpo, então acredita que
chegou. Não, não! Não temos chegado a nenhum lugar porque
não há ninguém que vá a parte alguma.
E: Mas vamos ver, o que eu queria dizer-te é o que me deixou
travada, e é que o personagem, embora seja um personagem do
sonho, desde que se manifestou...
A: Desde que se manifestou, não. Você foi criando o personagem
ao longo de tua existência.
E: Sim, mas você disse “apareceu”.
A: Claro! Apareceu com corpo e consciência.
E: Sim, mas de onde veio esse personagem?
A: Não veio de nenhuma parte. A criança não tem nenhum
personagem. Só depois que ela vai desenvolvendo-se,
identificando-se com uma forma de pensar, de atuar. Se não, não
haveria personagem. Uma criança recém-nascida não se
identifica com nenhum personagem, porque não tem memória, e o
personagem está dentro da memória. Você vai elegendo certos
conceitos, rechaçando outros e, assim, vai criando um
personagem ilusório.
E: Isso eu compreendo, mas quero integrar bem esse personagem
que aparece, que nos têm contado.
A: Não aparece! Você o cria. O personagem não aparece de um
golpe. Você o vai criando.
E: Eu me refiro a quando você vem, de onde vem? Por que o
personagem nasce?