ELISA-BERNAL-MINHAS-CONVERSAS-COM-ALEGRÍA (1)

(MARINA MARINO) #1

não é isso, bem, não sei, é uma consequência de algo, não? A
pessoa que fuma muito, assim como consequência pode ser que
morra de um câncer de pulmão e sofra e doa.


A: O sofrimento só existe quando o sentido de presença está aí.
Cem anos atrás, você sentia algum sofrimento, alguma dor? Só a
partir do aparecimento do sentido de presença, que aparece o
sofrimento. Mas bem, na própria manifestação, já existe um certo
sofrimento.


E: Eu, nesses anos, tento dar algum sentido a tudo isto para poder
continuar aqui. E o sentido que dei até agora é que, bem, sigo viva,
mas para mim também não tem muito sentido viver, a não ser por
ter podido descobrir outras coisas das que antes não me dava
conta. Isso vale a pena? Refiro-me à experiência.


A: Mas você disse “sigo viva”. A quem se refere? Ao personagem?
Ao indivíduo que você crê que é? Quem segue viva?


E: Por isso digo que seguir viva não tem muito sentido. Mas eu não
sou uma pessoa negativa. De fato, o que me tem tocado na vida, é
querer ajudar os demais, animá-los. Quando me vêm, por
exemplo, com a história de suicídio, eu digo: “Mas que ideia mais
absurda! Como quer se suicidar, se você sabe o que você é? Viva a
experiência!”. Isso eu digo muitas vezes. E quando digo, tem
sentido. Mas há dias que o corpo te puxa e diz: Para que?


A: Para que? Para nada. De todas as formas, falando de suicídio,
se você quer suicidar-te é porque está dando realidade ao sonho.
Do contrário, do que quer se libertar? Porque o suicídio seria uma
libertação, mas uma libertação de que e para quem?


E: Pois uma libertação da dor, do mal-estar. Suponho que alguém
que queira se suicidar é porque não se aguenta.

Free download pdf