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Denise Mota - Racismo prejudica desenvolvimento de crianças negras


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Folha Corrida
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Denise Mota


Uma criança se esconde em um canto do pátio da
escola durante o recreio para não ser alvo de
'brincadeiras' dos coleguinhas, por causa da cor da sua
pele. Outra chega chorando em casa porque uma
amiguinha de jardim lhe perguntou 'por que ela sempre
está despenteada'. Uma terceira começa a dormir mal
depois que seu cabelo, na creche, foi comparado 'ao de
uma bruxa": Um dos episódios aconteceu há pouco
tempo; outro, há uma década; outro, ainda nos anos 80.
Uma dessas meninas era eu; outra, minha filha; outra, a
protagonista de uma das histórias elencadas no estudo
'Racismo, educação infantil e desenvolvimento na
primeira infância', que acaba de ser publicado pelo
Comitê Científico do Núcleo Ciência pela Infância.


Em linguagem clara e com evidente fim didático, o
material procura indicar -a partir da análise de
investigações qualitativas em saúde e educação
produzidas no Brasil e nos Estados Unidos- como o
racismo estrutural prejudica o desenvolvimento de
crianças negras entre zero e seis anos, e que ações e
políticas públicas devem ser tomadas para combater


essa problemática.

'Um exemplo desse processo pode ser comprovado em
uma pesquisa de mestrado que constata que uma
instituição de educação infantil frequentada por 90% de
crianças negras só tinha bonecas brancas à disposição
delas e ninguém considerou esta uma incongruência na
organização dos espaços de educação voltados para
elas', afirma ao Preta, Preto, Pretinhos a coordenadora
do estudo, Lucimar Rosa Dias, doutora em Educação
ugela Universidade de São Paulo e professora
associada da Universidade Federal do Paraná.

'Há outros exemplos semelhantes ou de maior
gravidade que esse, que colocam a criança negra na
condição de invisível. Ou que lhes atribui um não-lugar,
uma desvalorização de sua humanidade'

De forma direta ou indireta, o racismo causa impactos
negativos 'em relação a oportunidades para adquirir
habilidades e conhecimentos, autopercepção,
autoconfiança, saúde física e mental, construção de
identidade, relações parentais, socialização de saberes
e acesso a direitos (condições de moradia, saneamento,
alimentação, saúde etc. )', descreve o estudo.

Alguns dos possíveis efeitos da desigualdade vivida
pelas crianças já em seus primeiros anos de vida são,
de acordo com o material, rejeição da própria imagem e
impacto na autoestima, restrições para realizar sua
capacidade intelectual, construção de uma identidade
racial desvalorizada, problemas de socialização e
inibição comportamental, propensão ao
desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta,
estresse tóxico, ansiedade, fobia, depressão, violência
doméstica e dificuldade de confiar em si mesmas. A
discriminação vivenciada durante a infância negra na
escola -pelas interações com outras crianças e com
profissionais- deve ser contemplada por políticas
educacionais que não se eximam do recorte racial,
indicam os investigadores. O material aponta também
'negligência, desrespeito às normativas do Estado
brasileiro, que prevê o direito ao pleno desenvolvimento
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