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(Antfer) #1

EDU LYRA - A digitalização do combate à pobreza


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: EDU LYRA


Um país tão desigual quanto o Brasil não pode se
contentar apenas com iniciativas pontuais de
distribuição da riqueza. Ações limitadas podem melhorar
o sono de quem as pratica, mas, enquanto sociedade, a
única maneira de combater a pobreza é por meio do
esforço coletivo. Precisamos superar a pobreza em
escala. Para tanto, devemos enfrentá-la também de
forma personalizada. Parece contraditório, mas não é.
Essa combinação entre ação geral e individualizada é
justamente uma das grandes novidades da era digital.


Gigantes como Google, Facebook, Amazon e Netflix
descobriram e aperfeiçoaram essa fórmula há muito
tempo. Por meio de algoritmos, essas empresas
estudam os gostos e comportamentos de cada um dos
usuários e lhes oferecem produtos e anúncios
personalizados. Ora, por que não levar esse
conhecimento à favela, para ajudar quem está na linha
de frente do combate à miséria?


É o que estamos tentando fazer. Na semana em que
comemoramos o Dia da Favela, a Gerando Falcões


anunciou a criação do programa Decolagem, com uma
tecnologia inédita de construção de trilhas individuais de
superação da pobreza. O programa, dirigido pela Nina
Rentel, é fruto de uma parceria coma Accenture,
representada por Leonardo Framil, CEO para a América
Latina, um líder que nunca deu as costas para a favela.
Trata-se da empresa mais bem preparada para ajudar a
favela nessa Missão X. Contamos também com um
aporte da Fundação Lemann, de Jorge Paulo Lemann,
que me apoia desde quando eu não tinha recursos nem
para pagar o aluguel da sede da Gerando Falcões.

O Decolagem reúne engenheiros e programadores
focados na construção de algoritmos que permitam
organizar os dados dos moradores das favelas.
Queremos colocar nas mãos do terceiro setor o melhor
da tecnologia de predição, análise comportamental e
gestão de risco, já amplamente usada pelas gigantes do
Vale do Silício.

O programa-piloto reunirá, por enquanto, dados de 500
famílias. Nosso objetivo é mapear as vulnerabilidades
de cada uma delas. Queremos entender também suas
perspectivas, para ajudá-las a aproveitar as
oportunidades. Por fim, esperamos identificar
antecipadamente situações que possam empurrar
novamente essas famílias para a pobreza extrema.

O combate à pobreza no Brasil ainda é analógico.
Pensamos em grandes programas sociais de
transferência de renda - que são necessários, é claro,
especialmente em momentos de crise aguda como a
que atravessamos -, mas deixamos de refletir sobre um
programa da era digital. Ou nos contentaremos com
modelos do século passado?

Contamos hoje com ferramentas que permitem
combater a miséria e a desigualdade de maneira muito
mais assertiva, com base num universo de dados
inimaginável até pouco tempo atrás. Precisamos
ampliar, sim, nossas iniciativas, mas precisamos,
sobretudo, de um salto qualitativo de eficiência.
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