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(Antfer) #1

A HORA DA CIÊNCIA - Culto da vida e repensar o humano


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Saúde
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Maroareth Dalcolmo


Foi sua partida repentina, véspera do Dia dos Mortos,
quase ao mesmo momento de Nelson Freire, como uma
conjunção de harmonia tristíssima, um adágio
prenunciando o réquiem, apequenado diante do
tamanho do vazio. Deixa a vida quem mais louvou a
vida, as artes, a literatura, as ciências, os amigos e as
perfeitas relações afetivas que por escolha construiu,
como a socióloga e professora Maria Isabel.


Pensadora à vera, sempre interessada em tudo o que
se referia à pandemia da Covid-19, sua evolução e
prognóstico, os avanços e decepções na ciência, com
sua inteligência luminosa entendera desde logo que a
solução não estava em remédios e sim na prevenção
através das vacinas. Vibrara com os primeiros
vacinados e com que convicção aguardou sua hora de
se vacinar e receber reforço! Viveu o lado duro da
epidemia em sua própria casa, passando pelo grave
período de doença, com o marido atingido pela Covid,
em situação limite, sempre confiante nos cuidados e no
que a medicina poderia fazer. Já acompanhara com
dedicação minha doença em período ainda de grandes


inseguranças, permanentemente trazendo uma
mensagem positiva, além de seus típicos mimos
gastronômicos. Gregária de natureza, ansiava pelo
momento de libertação para voltar a receber amigos,
sem as amarras dos protocolos epidêmicos e contente
de suas taxas de anticorpos alcançadas.

Escrita de pena sofisticada, seus livros revelam fina
sensibilidade, no trato de assuntos complexos e
sobretudo num percorreras avenidas "sem freio e sem
marcha à ré' da juventude, seus conflitos, descobertas,
comportamentos e capacidade criadora. Soube registar
a especificidade de sua própria experiência de vida, em
seu primeiro livro, 'Maternidade: um destino inevitável',
no qual gravita sobre esse dilema feminino essencial
com argúcia e originalidade, levando o leitor a pensar,
inexoravelmente sobre o tema. Quase contemporâneo,
'Masculino/Feminino: tensão insolúvel', percorre a
subjetividade à luz de sua relação com as ciências
sociais, suas categorias, conflitos e emoções
contextualizadas na sociedade brasileira. 'A explicitação
de um horizonte de finitude tem produzido tanto uma
descarga explosiva de mobilizações - um 'espernear'
contra o sistema, quanto o avanço de uma grande
mancha de desistência, do niilismo à depressão,
doenças desaceleracionistas derivadas da própria
aceleração, mas também reconhecíveis num
aturdimento humano diante da máquina, no torpor e
sedentarismo bulímico, denunciados por Agambem'.
Este um registro contundente sobre o que ela define
como o 'redesenho das formas de vida' em seu último
livro, 'Cartografias da Paragem', por ela organizado e
com outros autores.

Sua passagem pelo pós-doutorado na Universidade
Paris V-René Descartes, sob a orientação de Michel
Maffesoli, intensificou uma relação de profundo respeito
intelectual e de amizade, e lhe rendeu novas
inspirações. O aguilhão do digital que já fora tratado em
textos anteriores, e o tempo convertido 'em maior ativo
hoje', confiscado pela métrica do delivery e política de
resultados, retorna com força e extremo cuidado, num
desbravamento do universo jovem, em 'Criatividade,
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