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(Antfer) #1

Impasse radical


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
terça-feira, 9 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Governantes costumam desfrutar de certa trégua
política nos primeiros dias de mandato, momento em
que aproveitam para dar o tom da nova administração,
cumprir promessas de campanha e lançar medidas de
impacto. Não no Peru, onde o presidente Pedro Castillo
só conheceu crises e turbulências em seus três meses à
frente do país.


Desde que assumiu o poder, o novo mandatário vem
batalhando para conseguir o mínimo: formar um
gabinete funcional que lhe per mita, de fato, começar a
governar.


No Peru, diferentemente do Brasil, o primeiro escalão
do Poder Executivo, após ser nomeado pelo presidente,
ainda precisa ser confirmado pelo Congresso.


Coalhado de nomes controversos, o primeiro gabinete
proposto por Castillo, um neófito na política, foi
aprovado somente após duas longas sessões e em
meio a um ambiente de alvoroço, com manifestantes
favoráveis e contrários ao governo protestando do lado
de fora do Legislativo.


O principal ponto de conflito, naquele momento, deu-se
em torno do indicado para ocupar o cargo de primeiro-
ministro, Guido Bellido, investigado por apologia ao
terrorismo e envolvido num suposto esquema de
cobrança de subornos de comerciantes e fazendeiros.

Membro da ala mais radical do partido esquerdista Perú
Libre, pelo qual Castillo se elegeu, Bellido logo
acumulou atritos com o presidente e declarações
polêmicas, como a ameaça de nacionalizar jazidas de
gás exploradas por um consórcio privado.

Pressionado pelo Congresso, Castillo promoveu em
outubro uma ampla reforma governamental, na qual
substituiu o premiê e trouxe nomes ligados à esquerda
moderada. Diante da perda de espaço, o Perú Libre
estrilou. Maior bancada do Parlamento, com 37 das 130
cadeiras, a agremiação ameaçou votar contra o novo
gabinete.

A promessa foi cumprida em par te. Na quinta (4), o
novo ministério foi ratificado por 68 deputados, apenas
dois a mais que o necessário, e com o voto contrário de
quase metade da legenda presidencial.

As dificuldades de Castillo, assim, derivam sobretudo da
tarefa de conciliar os interesse se a agenda radical do
partido que afinal sustenta seu governo com a busca
pela moderação, crucial para obter maioria no
Congresso e melhorar o diálogo com o setor produtivo.

Aparentemente não será com Castillo que o Peru,
depois de vivenciar uma verdadeira vertigem política
nos últimos anos, alcançará, enfim, a estabilidade.

COLUNISTAS

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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