Clipping Banco Central (2021-11-13)

(Antfer) #1

Você deixou saudade


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Ebata Amaral


'Ai que saudade de um beija flor' Poucas mortes
tocaram tanto o coração dos brasileiros como o
falecimento precoce de Marília Mendonça, não só
porque ela se foi jovem e mãe, mas também porque
poucos conheciam esses mesmos corações como ela.


Foi Marília quem fez a live com maior audiência
simultânea do mundo. Quem convidou as pessoas para
o seu show panfletando nas ruas e praças das capitais
de todo o Brasil. Quem, em tão pouco tempo, compôs
mais de 300 músicas, muitas das quais se tornaram
grandes sucessos, tanto na sua quanto na voz de outros
cantores.


Aquela que deu voz, sem preconceitos e sem
simplismos, à mulher traída, à mulher que traiu, à
prostituta, à amante, à mulher que continua em um
relacionamento por conveniência e à mulher que
termina um relacionamento sem saber o porquê. À
mulher que, mesmo diante de dificuldades, não perde
sua força, sua determinação nem seu brilho.


Quem, por todo o seu protagonismo em um gênero
musical dominado por homens, ganhou duas vezes o
Grammy Latino de melhor álbum de música sertaneja.

Aquela que, dias após nos deixar, ganhou também o
prêmio de Cantora do Anodo Multishow, por uma
decisão unânime das suas concorrentes de
abandonarem a disputa e homenagearem a Rainha da
Sofrência.

Sem nos conhecer pessoalmente, Marilia era a melhor
amiga de todos nós. Quem traduzia nossos
sentimentos, nos ajudava a compreender o amor, nos
dava conforto nos momentos de sofrimento e nos tirava
um sorriso do rosto comum simples refrão gravado de
forma caseira e postado nas suas redes sociais, como
um singelo presente para seus fãs.

'Perder um artista é perder uma das possibilidades da
gente entender quem a gente é e O que a gente sente',
escreveu tão precisamente a atriz Valentina Bandeira.
Eu me sentia mais eu ouvindo e cantando Marilia no
banho, enquanto fazia café ou tirava as roupas do varal,
na estrada, nos bares, nas festas de casamento, nos
churrascos com amigos na laje. Marilia era popular, em
todos os sentidos que essa palavra pode ter.

Marilia, ainda estamos chorando a sua partida, mas
queria que você soubesse que, apesar de toda a dor
desses últimos tempos, você e suas músicas
continuarão sendo para nós um alento, capaz de nos
fazer dormir e acordar sorrindo.

Como uma simples homenagem e em resposta a todas
as críticas elitistas que ainda ouço por gostar de 'cultura
popular', gostaria de dedicar este espaço, o mais nobre
que tenho, à mulher que trouxe e traz tantas alegrias e
conforto para o nosso sofrido Brasil.

Cientista política e astrofísica formada em Harvard, é
deputada federal e ativista pela educação. Escreve aos
sábados
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