Xi e a liderança da terceira fase
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Folha de S. Paulo/Nacional - Mundo
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Jaime Spitzcovsky
Xi Jinping, no recente encontro de cúpula partidária,
equiparou-se, do ponto de vista da importância
simbólica, aos líderes comunistas Mao Tse-tung e Deng
Xiaoping, para arvorar-se em timoneiro da terceira fase
do projeto contemporâneo do PC: levar a China
novamente à condição de potência global, como
verificou-se em boa parte de sua milenar história.
O gigantesco partido, com cerca de 95 milhões de
filiados, dividiu a narrativa da trajetória iniciada em
1949, ano da chegada ao poder, em três capítulos. E, a
partir da segunda etapa, repaginou a tarefa histórica.
No período inicial, da ortodoxia maoista, o projeto
correspondia à "construção do paraíso proletário". O
fracasso do modelo, com aumento da pobreza e
isolamento internacional, pavimentou o caminho para
mudanças deslanchadas em 1978 por Deng Xiaoping.
Veio então a segunda fase.
Pós-Mao, Deng inaugurou o "socialismo com
características chinesas", ginástica retórica para
descrever a manutenção do monopólio do poder nas
mãos do PC, enquanto mecanismos de economia de
mercado criassem uma sociedade cada vez mais
próspera -evidenciada no surgimento de robusta classe
média, mas também com crescentes desigualdades de
renda.
Entre 1978 e 2021, a China passou de um modelo
baseado em exportações barateadas por mão de obra
abundante para uma economia apoiada cada vez mais
na expansão do mercado doméstico e no investimento
em tecnologia e inovação.
Havia a necessidade de encaixar a era maoista na trilha
das transformações. A narrativa do PC atribui a Mao a
tarefa de interromper "200 anos de humilhações e
vergonha" -definição de historiografias oficiais-,
impostos pela decadência do império chinês, por
atrocidades perpetradas por invasores europeus e
japoneses e pela guerra civil a opor nacionalistas e
comunistas.
Se a Mao coube restaurar um poder forte e centralizado
em Pequim, a Deng, segue a narrativa oficial, a história
reservou o papel de abrir as comportas para as "forças
produtivas da sociedade", com a chegada, em poucas
décadas, de prosperidade inaudita.
No mapa de voo do PC, após o poder centralizado
arquitetado por Mao e a prosperidade da era Deng,
começa a etapa de consolidação da China como
potência global, cujo início se dá em 2012, com a
chegada de Xi ao poder. O novo timoneiro sinaliza estar
no patamar dos líderes comunistas históricos e não no
de seus antecessores imediatos, Jiang Zemin e Hu
Jintao, governantes do país entre 1989 e 2012 e autores
também de marcas na cena política chinesa.
Jiang Zemin, por exemplo, patrocinou a aceitação
formal de empresários como integrantes do PC,
descritos desde então como "parte das forças
produtivas da sociedade". Deixaram de ser rotulados
como "exploradores do proletariado". Hu Jintao cunhou