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(Antfer) #1

Montenegro e Gil tornam ABL pop


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Folhamais
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Tony Goes


Para quê serve a Academia Brasileira de Letras?


É legítima essa pergunta. Apesar de centenária e de
frequentar as manchetes toda vez que elege um novo
integrante, a ABL é uma entidade opaca para a imensa
maioria dos brasileiros. Afinal, o que fazem aqueles
senhores, além de tomar chá e falarem mal uns dos
outros?


Surgida em 1897, nos moldes da Academia Francesa, a
Academia Brasileira tem como propósito oficial o cultivo
da língua portuguesa e da literatura nacional. Seus 406
membros, que recebem a alcunha de imortais, precisam
ter publicado pelo menos um livro. Qualquer livro: não
se especifica o gênero.


No entanto, desde seus primórdios, a ABL se afastou de
ser apenas uma congregação dos maiores escritores do
país. Entre os primeiros imortais está o inventor Alberto
Santos Dumont, que jamais se notabilizou por nenhum
romance. Novamente se espelhando na matriz francesa,
nossa Academia preferiu reunir os notáveis da cultura


brasileira, e não apenas os literatos.

Só que nem isso ela conseguiu. Nomes de peso como
Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meirelles,
Graciliano Ramos e Gilberto Freyre jamais se
interessaram em se candidatar a alguma vaga.

Uma das razões era a presença de políticos na
Academia, autores de obras sem maior valor. Alguns de
pendor autoritário, como Getúlio Vargas ou o general
Adélio de Lira Tavares, membro da junta militar que
governou o Brasil em 1969 e um dos signatários do AI-
s.

Em eleições recentes, os acadêmicos têm evitado se
curvar aos poderosos de plantão. Mas mantiveram a
tradição de escolher membros de áreas fora da
literatura propriamente dita, como o cirurgião plástico
Ivo Pitanguy ou os cineastas Nélson Pereira dos Santos
e Cacá Diegues. Também elegeram Paulo Coelho, o
escritor brasileiro mais vendido de todos os tempos.

A tendência foi mantida nas duas mais recentes
escolhas de imortais. Duas semanas atrás, a eleita foi a
atriz Fernanda Montenegro, cujo único livro é sua
própria autobiografia, 'Prólogo, Ato, Epílogo'; escrito em
parceria com Marta Góes. Nesta quinta (11), foi a vez
do cantor e compositor Gilberto Gil.

Nos dois casos, choveram críticas nas redes sociais.
Internautas que, provavelmente, não são muito
chegados aos livros, de repente se tornaram árbitros da
literatura. Segundo eles, Fernandona não merece estar
na ABL porque, bem, é atriz. E Gil não passa de um
cantor popular! Quem seriam os próximos acadêmicos,
então? Algum MC do funk?

Essas críticas vêm carregadas de preconceito e
ignorância. Ao dar vida no palco a personagens criados
por Nélson Rodrigues e Millôr Fernandes, Fernanda
Montenegro fez mais pelas nossas letras do que
milhares de escritores. Quanto a Gilberto Gil, trata-se
simplesmente de um dos nossos maiores poetas de
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