O analfabetismo de quem está na escola
Banco Central do Brasil
O Globo/Nacional - Opinião
sábado, 13 de novembro de 2021
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Autor: VEVEU ARRUDA E MAURÍCIO HOLANDA
A questão do analfabetismo produzido na própria escola
é endêmica. É conhecida dos professores e gestores
educacionais brasileiros e já foi medida em 2014, 2016
e 2019. Nos dois primeiros anos, pela Avaliação
Nacional de Alfabetização (ANA); em 2019, pela
Avaliação Amostral de 2º ano do Sistema de Avaliação
da Educação Básica (Saeb).
Grosso modo, constatou-se que quase 50% das
crianças de segundo ano, de acordo com o Saeb-2019,
e de terceiro ano, nas duas edições da ANA, estavam
em situação de não alfabetizadas. Outro traço dessa
situação endêmica é que 'os sistemas educacionais'
demonstram baixa imunidade e não têm mostrado
suficiente sensibilidade e capacidade de reagir.
Era, e ainda é, preciso alertar estados e municípios
sobre a gravidade da situação e apoiá-los na construção
de caminhos para sua superação. A Fundação Lemann,
o Instituto Natura e a Associação Bem Comum, com o
apoio da B3 e da Fundação Vale, firmaram com dez
governos estaduais uma proposta de cooperação
técnica para que estes implementem uma série de
medidas a fim de estabelecer parcerias com seus
municípios e para que, juntos, enfrentem o problema. O
programa ganhou o nome de Parceria pela
Alfabetização em Regime de Colaboração (Parc) e já
está, apesar da pandemia, em fase de implementação
nos dez estados.
Em setembro e outubro deste ano, foi realizada, em
parceria com os estados que adotaram a Parc, uma
avaliação de fluência leitora com 250 mil alunos das
respectivas redes. Essa avaliação teve dois objetivos:
estabelecer um marco do atual nível de leitura depois
dos piores efeitos da pandemia e usar as informações
para definir estratégias de redução dos prejuízos
sofridos pelas crianças.
A avaliação de fluência leitora consiste em apresentar
às crianças palavras, pseudopalavras (inventadas),
frases e textos. Essa modalidade vem enriquecer o
repertório de avaliações de alfabetização já realizadas
no Brasil, e sua aceitação por parte dos professores tem
surpreendido positivamente.
Os alunos foram distribuídos em três níveis: o pré-leitor,
que não consegue ler ou lê no máximo nove palavras
num intervalo de um minuto. O iniciante, que lê de dez a
60 palavras e pseudopalavras num minuto. E o fluente,
que, além das palavras e pseudopalavras, lê textos com
fluência. Os resultados foram os seguintes: 73% de pré-
leitores, 20% de leitores iniciantes e somente 7% de
leitores fluentes.
O efeito da pandemia pode ser estimado pelos
resultados de quatro estados para os quais também há
dados relativos a 2019. Neles, o percentual de alunos
no perfil préleitor era em média 52% em 2019 e saltou
para 73% em 2021. Para as crianças em idade de
alfabetização, a paralisação das escolas sem outros
recursos para substituir as aulas foi um imenso
agravante.
A sensibilização, o 'estado de alerta' e o nível de