MANUELA D'ÁVILA - Notícias falsas, ódio real
Banco Central do BrasilRevista Carta Capital/Nacional - Colunistas
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - ColunistasClique aqui para abrir a imagemClique aqui para abrir a imagemAutor: MANUELA D'ÁVILA
A filósofa Hannah Arendt dizia que as pessoas se
relacionam com a imagem fabricada de si mesmas,
distanciando-se cada vez mais de sua essência
humana. Este, para Arendt, seria um dos aspectos do
fenômeno de banalização do mal, tendo em vista que
não pensar a respeito de sua existência fortalece a
propagação dessa imagem inumana. Hoje, a incitação
ao ódio e a disseminação de notícias falsas são os
facilitadores desse processo de dissociação,
impactando de forma real a vida das pessoas.Há poucas semanas, em Porto Alegre, vereadoras
negras foram agredidas durante uma sessão na
Câmara. Dos violentos manifestantes, dois são
militantes do movimento cristão conservador do PTB.
Não é casual que este seja o partido de Roberto
Jefferson, que numa recente manifestação sugeriu que
invadissem plenários e atirassem em parlamentares de
oposição. Aliás, essa sua manifestação de desprezo
pela democracia e estímulo à violência política foi o que
me fez procurar o Ministério Público para denunciá-lo e
que resulta em nova investigação do Supremo Tribunal
Federal.O discurso de ódio proferido pela extrema-direita é
voltado para múltiplos grupos identitários, adeptos da
manifestação e não identificados com suas vítimas. Eles
são chamados para participar desse discurso
discriminatório com objetivo de ampliar seu raio de
abrangência, fomentá-lo não só com palavras, mas
também com ações. Com isso, percebe-se que o
discurso de ódio busca ir além da manifestação pontual
de opinião: impõe adesão.O caos, direcionado a esses grupos, é atravessado por
elementos carnavalescos e hedonísticos, atrelados ao
que essas pessoas acreditam e as une. Tudo muito
entrelaçado pelo viés da transgressividade e pela
ruptura do que consideram tabus, como o do
“politicamente correto”, que incomoda tantos
extremistas. É um movimento que se aproveita da raiva
de uma forma muito mais tecnológica, muito mais eficaz
e muito mais dirigida a um público alvo do que se fazia