Clipping Banco Central (2021-11-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Carta Capital/Nacional - Economia
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Produto Interno Bruto

e TIM, abocanharem a faixa de 3,5 GHz, o “filé mignon”
da disputa. Três empresas atuantes no setor de
equipamentos ou internet arremataram, no entanto,
lotes regionais e vão estrear na telefonia móvel:
Brisanet, Cloud2U e um consórcio entre a Copel e a
Unifique. A cearense Brisanet levou os lotes dedicados
ao Nordeste e à região que contempla o Centro-Oeste,
com exceção de algumas áreas de Goiás e Mato
Grosso do Sul. A companhia ofereceu um ágio
gigantesco: 13.741% em relação ao preço mínimo e
pagará 1,2 bilhão de reais. No Centro-Oeste, o ágio foi
de 4.054% e o valor pago, 105 milhões de reais. No
bloco regional Sul – o mais disputado – o Consórcio 5G
Sul será a nova prestadora de telefonia móvel. A
Sercontel, de Curitiba, ficou com a divisão que abrange
a Região Norte e grande parte do estado de São Paulo,
e recebeu autorização para atuar em todo o País.


Dado o primeiro passo para dotar o Brasil da nova
tecnologia, as expectativas vão muito além do aumento
de velocidade e do impulso à atividade. “O que não está
tão claro no debate, o que está subestimado, é a
centralidade do 5G no que se convencionou denominar
de Indústria 4.0, ou processo de digitalização da
economia ou digitalização da manufatura ou o que nos
Estados Unidos se chama smart manufacturing”,
ressalta Antonio Carlos Diegues, professor do Instituto
de Economia da Unicamp. “Terá um impacto importante
a partir do momento em que a economia começar a
massificar o 5G nos diferentes setores, pois à medida
que integrarem a nova tecnologia, não só aumentarão
sua eficiência operacional com ganhos de
produtividade, mas também criarão novos modelos de
negócios, novos caminhos e serviços que podem ser
realmente disruptivos”, antecipa Márcio Kanamaru,
sócio-líder de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações da
KPMG no Brasil. “O Brasil está sofrendo um processo
de desindustrialização, quase voltando a ser uma
economia agrário exportadora, e o 5G é uma
oportunidade para ‘correr atrás do prejuízo’, superar
gargalos históricos que temos na área de infraestrutura
e recuperar posições na indústria. Isso é estratégico
para o Brasil”, complementa o presidente da Associação
Brasileira das Prestadoras de Serviços de


Telecomunicação Competitivas, Luiz Henrique Barbosa.
“O 5G é, sim, uma oportunidade de encontrarmos um
atalho nessa corrida, com uma agenda que melhore
ainda mais a competitividade do nosso agronegócio,
melhore a logística, melhore a indústria.”

Diegues, que além de especialista em Economia
Industrial também é estudioso da economia chinesa,
enfatiza que a importância crítica do 5G para a indústria
inteligente “está no coração da guerra tecnológica entre
China e Estados Unidos”, uma vez que a Huawei é,
hoje, a líder global em 5G. A empresa foi além: criou e
estabeleceu padrões que controlam os ecossistemas,
como o Android da Google e o iOS da Apple, em torno
dos quais o Estado chinês arregimentou empresas
como Alibaba, Baidu, Ten Cent e Vision, entre outras,
para oferecer pacotes integrados de soluções, não
apenas para a indústria 4.0, mas também para as
futuras smart cities – ou cidades inteligentes, em que
todos os tipos de serviços, públicos e privados,
necessários à vida humana estarão conectados. “Daqui
dez, 15 anos, o prefeito de Campinas precisa de uma
solução para a cidade inteligente, só que isso implica
uma miríade de empresas e de soluções. Integrar é
complicado. A Alibaba vai chegar e oferecer um pacote
pronto, com tudo integrado. Esta é a disputa”, explica
Diegues.

O acadêmico critica a falta de senso de oportunidade do
governo brasileiro por não ter aproveitado o leilão para
barganhar contrapartidas da China e admitir o uso de
equipamentos da Huawei. “Esse tipo de disputa em
termos de padrões tecnológicos entre grandes
potências abre um espaço singular de oportunidades
para países relevantes como o Brasil”, sublinha
Diegues, que remete à implantação da indústria
siderúrgica no Brasil, nos anos 1940, quando o governo
de Getúlio Vargas, na Segunda Guerra Mundial, arbitrou
entre as potências do então chamado Eixo (Alemanha,
Itália e Japão) e os EUA, de forma a conseguir mais
vantagens para o processo de industrialização
brasileira. “O equivalente, então, digamos assim, ao 5G,
na época, mal comparando, seria a construção da
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