Clipping Banco Central (2021-11-13)

(Antfer) #1
Banco Central do Brasil

Revista Isto é/Nacional - Brasil
sexta-feira, 12 de novembro de 2021
Banco Central - Perfil 1 - Paulo Guedes

de governo, ele concedeu onze medalhas para seus
familiares, três para o filho 01, o senador Flávio, cinco
para o 03, o deputado Eduardo, e três para a mulher
Michelle, sem que tenham feito algo notável. Foram
todas arbitrárias e sem justificativa que não seja o
vínculo familiar e o nepotismo.
Bolsonaro transformou o governo num balcão de
medalhas de fazer inveja a ditadores do passado como
Idi Amin Dada ou Jean-Bédel Bokassa. Depois da
eleição, sua avidez medalhista se manifestou pela
primeira vez em dezembro de 2018, um mês antes da
posse, quando recebeu a condecoração do Pacificador
com Palma. Trata-se de uma das mais prestigiadas
honrarias oferecidas pelo Exército, criada em 1953, em
homenagem ao sesquicentenário do nascimento de Luís
Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Em 1962, ela
foi adaptada, ganhou o detalhe da palma e passou a ser
concedida também para civis. É destinada para aqueles
que realizam atos de bravura e destemor em suas
atividades em tempos de paz. Isso não combina com
Bolsonaro, que deixou o Exército pela portas dos fundos
quando se elegeu vereador, depois de fazer politicagem
e ameaçar lançar bombas em quartéis para protestar
contra os baixos salários das Forças Armadas. Mas
num claro malabarismo, como raramente se viu na
trajetória da condecoração, foi resgatada das sombras
uma demonstração de bravura realizada por ele em



  1. Durante quatro décadas o processo ficou na
    gaveta para só sair quando Bolsonaro virou presidente.
    O ato heroico foi ter salvo do afogamento um soldado
    chamado Celso Luiz Morais, apelidado de “Negão
    Celso”, da 2ª Bateria de Obuses do 21º Grupo de
    Artilharia de Campanha, em uma lagoa, há 43 anos,
    durante uma instrução militar. Dois generais da reserva
    ouvidos por ISTOÉ que acompanharam a concessão da
    medalha dizem que os fatos que levaram à honraria são
    muito contraditórios e obscuros e ela só foi concedida
    num lance de oportunidade, com o objetivo de trazer
    algum ingrediente épico para uma carreira militar pífia.
    Em 2012, a condecoração foi reivindicada pela primeira
    vez por Bolsonaro, que montou sua narrativa, mas o
    pedido não foi aceito pelo Exército. Por se tratar de um
    militar negro, o presidente usa até hoje o caso como
    uma demonstração de que não seria um sujeito racista.
    O Pacificador com Palma é hoje o símbolo que mais dá


orgulho a Bolsonaro. Sempre que quer dar algum
recado ou parecer abnegado usa um pequeno broche
azul e vermelho, que representa a medalha, na lapela
esquerda de seu paletó. Uma das mensagens que
passa quando coloca o adorno é de admiração pelo seu
mentor, o major Carlos Alberto Brilhante Ustra, que
também recebeu a condecoração. No começo dos anos
1970, vários notórios torturadores como Ustra, o major
Freddie Perdigão Pereira, o capitão Ailton Guimarães
Jorge e o delegado Sérgio Paranhos Fleury ganharam o
regalo, uma pequena placa de bronze de 3 cm com o
brasão do Duque de Caxias.
Enquanto é generoso consigo mesmo e com os seus,
Bolsonaro mostra-se impiedoso com os desafetos.
Quem não está plenamente alinhado com a ideologia de
extrema-direita do governo não ganha medalha no
Brasil. Quanto pior o desempenho do funcionário ou
ministro ou mais profunda sua ignorância, maior a
chance, hoje, de ele ser agraciado com um título de
notória contribuição à Nação. Prova disso é que, na
semana passada, Bolsonaro excluiu de maneira
sumária da lista de agraciados com a Ordem Nacional
do Mérito Científico os cientistas Adele Schwartz
Benzaken e Marcus Vinícius Guimarães Lacerda,
ambos estudiosos prestigiados de doenças infecciosas
na Amazônia, porque descobriu que não estavam de
acordo com as políticas obscurantistas do governo
federal de promoção à cloroquina e boicote às medidas
de distanciamento e isolamento, como se fosse um
defeito. Foi uma clara demonstração de parcialidade e
rancor e mostra que Bolsonaro trata virtudes como
defeitos na hora de escolher seus preferidos. Em
protesto contra a exclusão arbitrária, outros 21
pesquisadores que seriam condecorados abriram mão
da distinção. A revisão foi feita no Diário Oficial e restou
conceder a Ordem do Mérito Científico para alguns
ministros, como Marcos Pontes, da Ciência e
Tecnologia, chamado, há uma semana, de burro pelo
titular da pasta da Economia, Paulo Guedes, outro
inexplicavelmente agraciado. Em carta pública enviada
a Pontes, os 21 cientistas declararam “indignação e
repúdio pela exclusão arbitrária dos colegas” e
classificaram a decisão como “um novo passo do
sistemático ataque à ciência por parte do governo
vigente”.
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