COP-26: o planeta pede socorro
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O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas
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Autor: Dom Odilo Pedro Scherer
E muito sério o problema das mudanças climáticas,
posto em debate na Conferência de Glasgow. O que
está em jogo é o futuro da vida em nosso planeta azul.
Órgãos de governo, empresas, cientistas,
pesquisadores e especialistas no tema debateram e
compartilharam preocupações e ideias para estabelecer
metas e determinar medidas concretas para frear a
degradação das condições de vida na Terra.
Também a Igreja Católica compartilha essa
preocupação e participado esforço para cuidar do
ambiente da vida. Não é de hoje que ela ensina o
respeito à natureza, que não é vista apenas como algo
a ser desfrutado para o desenvolvimento humano: ela é
obra de Deus Criador e manifestação de sua
providência para com o ser humano e todas as
criaturas. Cabe ao homem cuidar e administrar este
'jardim', em benefício de todos.
Embora isso já estivesse presente no ensinamento
cristão tradicional, a palavra mais explícita da Igreja
sobre as questões ambientais é mais recente, como
também acontece no âmbito geral da cultura. Contudo,
lembro-me bem de uma chamada do padre de minha
comunidade de origem, no Paraná, nos anos 1950,
advertindo contra o desmatamento indiscriminado e a
erosão das terras: 'Aterra está ferida e a água vermelha
dos córregos e rios é seu sangue que escorre', dizia ele.
O papa Bento XVI, na encíclica Caritas in veritate
(2009), ao tratar do desenvolvimento humano integral,
recordou que a natureza nos precede, tendo-nos sido
dada por Deus como precioso ambiente da vida. Elanos
fala do Criador e do seu amor pela humanidade. A
natureza está à disposição do homem, mas não para
qualquer intervenção e uso. Nela, o Criador imprimiu
ordenamentos intrínsecos, que o homem deve conhecer
e respeitar (cf. n. º 48). O homem pode servir-se
responsavelmente da natureza para viver, mas precisa
respeitar os equilíbrios intrínsecos da mesma natureza.
No mesmo documento, o papa Ratzinger tratou das
implicações éticas e morais da conduta humana em
relação à natureza. A questão não pode ser abordada
apenas do ponto de vista técnico e econômico, pois
também está associada aos deveres que nascem da
relação do homem com o ambiente e com as demais
pessoas. Essa relação envolve a nossa
responsabilidade para com a humanidade inteira, sem
esquecer os pobres e as gerações futuras. Sem esse
discernimento, a natureza acaba sendo um tabu
intocável ou, ao contrário, uma reserva da qual o
homem vai se apossando até o exaurimento. Nem uma
nem outra dessas atitudes corresponde à visão cristã
sobre a natureza.
Em 2015, o papa Francisco publicou a encíclica Laudato
si - sobre o cuidado da casa comum, dedicada
inteiramente à ecologia integral, com alguns conceitos
novos e incisivos.
Nas questões ambientais, tudo está interligado: o
ambiente da vida, a pessoa humana e os demais seres,
as questões econômicas, a justiça social e a paz. Não
se pode tratar de uma delas sem levar em conta as