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(Antfer) #1

Existe uma fórmula para vivenciar o luto?


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Bem estar
sábado, 13 de novembro de 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: NATHALIA MOLINA


Luto. O rompimento do vínculo com uma pessoa muito
importante provoca uma dor insuportável. Esse
sentimento pode abater tanto aquele que perde alguém
próximo, como nas mais de 610 mil mortes por covid no
Brasil, quanto um fã ardoroso que vê a partida de um
ídolo- caso recente da cantora Marília Mendonça.
Marcado por uma carga sombria pelo sofrimento que
envolve, o luto causa incômodo não só em quem o
atravessa, mas nas pessoas que lidam com os
enlutados.


Sem saber como ajudar, muita gente pensa que o
melhor é empurrar a pessoa para seguir adiante. Mas
como voltar ao cotidiano se ele não é normal? 'O luto
não é um videogame que você vai passando as fases
ezera o jogo, que vai percorrer aqueles estágios e
pronto. O ser humano é muito mais complexo que isso.
Pode durar seis meses, um ano, dez anos, a vida toda',
afirma Mariele Correa, professora de Psicologia da
Universidade Estadual Paulista (Unesp) câmpus Assis.


E é legítimo sofrer por alguém que não se conhecia


pessoalmente. 'No caso da Marília Mendonça, há fãs
com um vínculo muito forte com ela', explica Elaine
Alves, pesquisadora convidada do Laborató

rio de Estudos sobre a Morte do Instituto de Psicologia
da Universidade de São Paulo (USP). 'Como a história
de vida vem à tona com a notícia, alguém que não sabia
dela pode sim ficar enlutado porque isso aflora outras
dores. Imagina então as mulheres que se sentiam
representadas por ela. ' Ouvir as músicas, falar do ídolo,
tudo pode ser parte do processo, segundo Elaine.

DOR COLETIVA. 'Ayrton Senna e Lady Di são os
maiores fenômenos de luto coletivo', diz Elaine. 'A
Marília Mendonça disparou o luto coletivo, e a covid,
também. ' Segundo a especialista, no coletivo as
pessoas podem se acolher, ficar juntas, e ele também é
mais rápido do que o individual. 'Masna pandemia
muitos enlutados estão em casa (pela necessidade de
distanciamento). Isso dificulta fechar o ciclo', afirma a
fundadora da Prestar Cuidados em Psicologia
(prestarcuidados.com.br), com atendimento ao público e
cursos para profissionais. Teóricos mapearam as fases
mais comuns do luto, porém elas não devem ser
encaradas como um caminho no qual todos passariam
por cada fase e da mesma maneira.

A psiquiatra suíça Elisabeth KúblerRoss apontou cinco
fases: a negação (descrença no ocorrido); a raiva
(revolta pela situação), a barganha (negociação para
adiar a dor); a depressão (sensação de impotência e
análise do impacto em quem sofre); e a aceitação
(expressão mais serena dos sentimentos).

'As teorias são importantes para nós, profissionais,
porque nos ajudam a entender reações, atitudes e
sentimentos', diz a professora da Unesp. 'Cabe a nós
compreender como cada pessoa vivencia o luto, não
procurando enquadrá-la num modelo fechado', ressalta
Mariele. Ela explica que uma das vertentes dos autores
é que o luto é um processo dual. 'A pessoa vai
oscilando entre um polo para a perda e outro para a
restauração. Tem dia em que não quer sair da cama. No
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