Clipping Banco Central (2021-11-25)

(Antfer) #1

José Serra - Aventureirismo político pode ser evitado


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Espaço Aberto
Thursday, November 25, 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Click here to open the image

Autor: JosÉ Serra


A eleição de Fernando Collor, em 1989, parece ter
aberto uma sequência de sucessões presidenciais em
que era inevitável escolher por rejeição. Collor, que
obtivera, no primeiro turno, pouco menos de 30% dos
votos, derrotou Lula, que recebeu pouco mais de 15%,
também no primeiro turno.


Mais de metade dos cidadãos deixou de expressar seus
verdadeiros interesses e ideais, forçados a optar, no
segundo turno, entre candidatos que não
representavam sequer metade dos votos. Foi eleito um
candidato sem partido, sem equipe de governo com
experiência de gestão pública, sem carreira política
que evidenciasse convergência entre suas promessas
de mudanças radicais e sua habilidade para realizá-las.


Lula, sem nenhuma experiência executiva, escapou
dessa sina porque liderava um partido com eleitorado
relevante, conseguiu cercar-se de quadros
competentes, de fora e de dentro de seu partido.
Empenhou-se em conciliar as bandeiras esquerdistas
do PT com interesses conservadores e orientações


liberais. A despeito de suas reconhecidas habilidades,
não conseguiu integrar as expectativas radicais de seu
partido à gestão eficaz da política econômica e, na
contramão do crescimento da economia mundial,
entregou à sua sucessora uma economia em perigosa
retração.

Dilma não teve a mesma ventura que seu tutor, que lhe
deu um partido, mas não a licença para liderá-lo, nem a
habilidade para conciliar as pretensões extremistas de
facções do PT com os interesses conservadores e as
preferências liberais dos quadros que haviam dado,
inicialmente, equilíbrio fiscal ao mandato de Lula.
Faltou-lhe, também, uma experiência executiva
relevante, que lhe granjeasse credibilidade. Comisso,
entregou ao seu sucessor um país gravemente dividido
e profundamente insatisfeito com partidos e governos e,
desta vez, com a economia em recessão.

Michel Temer, em que pesem as importantes reformas
que marcaram seu curto mandato, e a retomada da
estabilidade e do crescimento econômico que
proporcionou, repetiu o cenário político polarizado e
extremista da sucessão de Sarney e do ocaso do
lulismo. Este cenário reúne o ambiente eleitoral ideal
para candidaturas aventureiras e o pano de fundo para
a fragmentação partidária que propiciaram a eleição do
atual governo.

Parte não desprezível da opinião pública, das lideranças
políticas, das redações, dos institutos de pesquisa de
opinião e da academia parece encarar como fatalidade
a repetição da disputa entre Bolsonaro e o lulismo,
atribuindo-lhe a inevitabilidade de uma escolha por
rejeição. As aparências de repetição refletem a
estratégia deliberadamente adotada pelos que se
beneficiam desta crença sem fundamento em nossa
história política.

Vejamos em que diferem o atual processo sucessório e
a campanha de 2018. Em primeiro lugar, já se tornou
patente que Lula e Bolsonaro se escolheram como
parceiros ideais de uma polarização, e se empenham
Free download pdf