Clipping Banco Central (2021-11-25)

(Antfer) #1

Sujos ditos-cujos


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
Thursday, November 25, 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A chamada pauta de costumes se impôs mais uma vez,
em prol da doença e do moralismo tacanho. Por ocasião
do Novembro Azul, período dedicado à prevenção do
câncer de próstata, uma campanha do Instituto Lado a
Lado incluiu na pauta sanitária os tumores de pênis e
espalhou cartazes com o jocoso lema 'Lave o Dito Cujo'.


Totens em 15 estações paulistanas incluíam mosaicos
de 366 ilustrações fálicas. Foi o quanto bastou para
abespinhar o deputado estadual Tenente Nascimento,
do partido pelo qual Jair Bolsonaro se elegeu presidente
(PSL), e levá-lo a apresentar moçào de repúdio na
Assembléia Legislativa paulista.


Horas depois da investida parlamentar, o governo de
Joào Doria (PSDB) cedeu e determinou a retirada dos
cartazes do local. Alegou-se que a campanha não
condiz com as diretrizes do Bandeirantes e que a
limpeza correta do membro masculino nào tem relação
com o câncer de próstata.


Não é bom argumento, porque os dois órgãos estão
intimamente relacionados e a saúde do aparelho genital
costuma ser negligenciada por homens. Morrem 400 no


Brasil a cada ano-umas das maiores incidências de
câncer peniano no mundo- e vários sofrem amputações
com tumores que poderíam ser evitados com
higienização.

Pode-se debater a qualidade estética dos pôsteres, mas
soa desumano banir a campanha só porque puritanos
se irritam com a representação do falo. E se fossem
ilustrações científicas, menos cômicas, acaso deixariam
passar?

A mesma disposição censória move quem nào admite
educação sexual ou imagens didáticas de corpos
femininos e masculinos. A sensibilidade religiosa
pretende proscrever até inovações arquitetônicas como
a oferta de banheiros para pessoas de qualquer gênero
em uma unidade do McDonakTs em Bauru, no interior
paulista.

Uma cliente indignou-se não com desenhos fálicos que
costumam cobrir portas de reservados pelo lado de
dentro, mas com bonequinhos do lado de fora a indicar
o acesso de qualquer um ao WC. A prefeita bolsonarista
da cidade, Suéllen Ro-sim (Patriota), pressionou, e o
estabelecimento voltou atrás.

Devem-se respeitar, por óbvio, valores, crenças e
preferências individuais. Descabido, entretanto, é
envolver a política pública em disputas ideológicas que
desconsideram o interesse coletivo.

COLUNISTAS

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