Clipping Banco Central (2021-11-25)

(Antfer) #1

Luiz Osório Silveira Leiria - A mãe das indústrias sob ataque


Banco Central do Brasil

Folha de S. Paulo/Nacional - Opinião
Thursday, November 25, 2021
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Luiz Osório Silveira Leiria


A pandemia de Covid-19 colocou os cientistas nos
holofotes e de quebra fez ao menos parte da população
enxergar que em terras tupini-uins se faz ciência sim.
Como na-a parece ter lógica nestes tempos, com a
pandemia também vieram cortes no orçamento das
agências de fomento federais, Capes e CNPq, que
receberam o tratamento digno das coisas
desimportantes no exato momento em que eram
essenciais. Para nosso azar, o momento de maior
popularidade da ciência junto ao brasileiro coincidiu com
seu momento de maior desprestígio junto às esferas de
poder, especialmente o Executivo federal.


A pesquisa científica deve ser entendida como uma
indústria capaz de gerar empregos e renda. Sempre
vista como um investimento que traz resultados no
longo prazo, já passou da hora de enxergar que o
investimento público nessa indústria gera empregos no
curto e médio prazos, de forma direta e indireta.


Através de sua agência de fomento (Fapesp), somente
o estado de São Paulo investe em média R$ 200


milhões por ano embolsas de estudos (e tem margem
para melhorar). O investimento em bolsas é também
acreditar no primeiro emprego do jovem que está
transitando entre a graduação e o mercado de trabalho -
e, consequentemente, movimenta a atividade
econômica.

Produtoras de insumos e serviços de suporte à
pesquisa se instalam em torno de 'hubs' de produção
científica. Nessas áreas criam fábricas e trazem
empregos, além de acelerar a pesquisa, num ciclo
virtuoso. Curiosamente, elas não se instalam no Brasil,
pois não há demanda suficiente. Logo, importamos
insumos, o que torna a pesquisa mais lenta e cara: um
ciclo vicioso, ladeira abaixo.

Ainda assim o leitor pode questionar se não estou
exagerando quando falo em 'indústria da pesquisa
científica'. Pois bem: não só oé, como também é a mãe
de todas as outras. Não é em vão que os polos
tecnológicos se instalam ao redor ou dentro de polos
universitários, inclusive no Brasil. O exemplo mais
icônico é o da região de Boston (EUA), que, devido às
grandes universidades, se tornou o maior 'hub' da
indústria das 'biotechs', reunindo mais de 300. Este
ecossistema é considerado o principal motivo da rápida
recuperação da economia da região após a crise aguda
da pandemia.

A famigerada recuperação em ' V' não ocorre em vão. O
desenvolvimento desses ecossistemas só pode ser
viabilizado através do aporte de investimento público em
ciência, o que no caso da área biomédica norte-
americana é garantido majoritariamente pelo National
Institutes of Health (NIH), uma agência pública de
fomento. Segundo argumentam os professores do MIT
(Massa-chusetts Institute of Technology) Simon
Johnsone Jonathan Graberno livro 'Jump-Starting
America', cada US$ 10 milhões investidos pelo NIH
resulta em US$ 30 milhões de retorno na iniciativa
privada.

Se insistirmos em não enxergar isso em tempo,
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