Carbono Uomo - Edição 13 (2019)

(Antfer) #1
Lili Carneiro

O ano é 1990.
Vivemos a Terceira Revolução Industrial,
a chamada Era Digital.
Surgem os primeiros computadores pessoais e
a internet (como a conhecemos hoje).

O mundo nunca mais é o mesmo.

Se os propósitos eram militares, nem importa.
Quem se “desproposita” são as indústrias da música,
das artes, da informação, da cultura, do consumo,
da moda, das amizades, dos namoros, das vidas.
Todos correndo atrás de se “onlinezar”.

E o mundo nunca mais foi o mesmo.

Não há mais descanso, férias, fim de semana,
folgas, respiros, repousos...
Ai de quem visualizar e não responder!
Ai de quem seguir e não curtir!
Ai de quem não conectar!
Ai de quem não publicar!
Ai de quem não marcar!
Ai de quem hashtag por direct o big data
da arroba do avatar link na bio!
Socorro! É muito spam para um planeta só!
Block já!

Quando o mundo vai voltar a ser o mesmo?!

Quando teremos a gostosa sensação de fechar a porta do


escritório e pensar “agora só na segunda”?
Quando iremos nos dar ao trabalho de olhar pela janela
para saber se está chovendo?

Foto Marcus Steinmeyer

Quando passaremos uma tarde fria mergulhados nas
páginas de um caderninho de receitas em busca do melhor
bolo de chocolate da família?
Quando viajaremos sem a pressão de ter que visitar todos
os dias os lugares mais “instagramáveis” da cidade?
Quando sentiremos o prazer de olhar as horas
no relógio que era do vovô?

Quando mesmo que o mundo vai
voltar a ser o mesmo?

Sim, a internet é linda.
É muito bom não ter que ficar tomando chuva
na esquina esperando um táxi.
E é bom também não precisar ir ao banco.
Ah, também é bom ver fotinho do prato na
hora de escolher o que pedir no delivery.
Mas existe um mundo fora da rede!
Existe descobrir um café novo no bairro caminhando por
ele em uma manhã ensolarada. Existe conhecer o amor da
sua vida em um encontro de amigos na praia. Existe passar
dezembro todinho escolhendo o mais lindo calendário das
livrarias. Existe explorar a nova coleção de uma marca
folheando as páginas de um catálogo. Existe aprender
quantas vezes o beija-flor bate as asas por segundo lendo
a enciclopédia das aves com seus filhos.
Existe um mapa. Um orelhão. Uma carta. Uma foto.
Um dicionário. Um jornal. Uma banca.
Uma agenda. Um disco. Um cartão-postal.
Existe memória. Existe história. Existe voz.
Existe contato. Existe tato.
Tudo isso existe.
É só fazer o download de um aplicativo chamado
VIDA.

Editorial

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