Carbono Uomo - Edição 13 (2019)

(Antfer) #1
Perfil | ANTONIO FAGUNDES

NA PÁGINA AO LADO
Blazer, t-shirt, calça jeans e sapato DOLCE&GABBANA — anel GUERREIRO

“A vida anda uma loucura”, exclama


Antonio Fagundes enquanto se prepa-


ra para o primeiro clique do ensaio que


você confere. Ele se refere ao aniversá-


rio de 70 anos, completados em abril,


e também à carreira de 53 anos, que


continua em plena ascensão. Prestes a


estrear Bom Sucesso, novela das 19h na


TV Globo, ele já juntou 200 mil espec-


tadores em salas de teatro do Brasil, de


Portugal e dos Estados Unidos com a


peça Baixa Terapia: “A luta continua, a


data não chegou a ser um marco para


mim. Estou fazendo tanta coisa que


fica até difícil selecionar a comemora-


ção, se deve ser a partir de um ponto ou


de outro. A vida tem sido tudo junto e


misturado”, diz.


Tudo junto e misturado parece

definir bem o homem que cativa o


público brasileiro desde meados dos


anos 1960. Fagundes começou no


teatro e, logo em seu primeiro pa-


pel na televisão, na novela Nenhum


Homem É Deus, foi indicado ao Tro-


féu Imprensa como ator revelação


de 1970. De lá para cá, foi Cacá em


Dancin’ Days, Pedro da Boleia em


Carga Pesada, Ivan Meireles em Vale


Tudo, Bruno Mezenga em O Rei do


Gado, Coronel Ramiro Bastos em


Gabriela e mais recentemente Halim,


em Dois Irmãos. Já são mais de 50


papéis na TV e outros 50 no cinema,


sem nunca ter deixado o palco, sua


grande paixão, de lado: “O teatro é a


pátria do ator. É nele que o ator ousa,


erra, arrisca-se, aprende a ser humil-


de. O teatro é imprescindível para


pontes aéreas e gravações: “Para mon-
tar o elenco, fizemos ensaios com seis
ou sete grupos de atores diferentes e
pinçamos aqueles que funcionavam
mais dentro daquilo que queríamos.
Quando vimos, era essa a formação.
Não foi algo pensado desde o começo,
fomos crescendo juntos, e se provou
uma decisão acertada”, explica. A si-
nergia de palco é familiar, mas também
foi construída pelo quarteto em outros
trabalhos, já que todos já haviam se en-
contrado na TV, no cinema ou no tea-
tro em outras ocasiões.
A peça passou por 27 cidades bra-
sileiras, além de palcos portugueses e
americanos, mas ainda não chegou ao
Rio de Janeiro. Considerando que foram
pouco mais de 300 sessões, tem uma mé-
dia de público de mais de 2 mil pessoas
por fim de semana, impressionante para
épocas de maratonas de seriado na Net-
flix: “Principalmente agora, com o strea-
ming, o teatro se faz atrativo. Estamos
vivendo em um mundo cada vez mais
sem vínculos, totalmente individualista.
Os produtos que você quer, escolhe in-
dividualmente. Isso faz com que você se
dissocie dos meios sociais, ao contrário
do que se imagina”, reflete Fagundes.
“‘Estou nas redes sociais’... Você não
está em nada! ‘Tenho 5 milhões de se-
guidores’... Você não tem nada! Apenas
uma ilusão de que está se relacionando
com alguém. No teatro você tem real-
mente um momento social. São 700
pessoas que se reúnem em um mesmo
espaço, respiram o mesmo ar e, durante
uma hora e meia, sem usar essa porcaria

mim e muitos atores da minha geração,
ainda mais no que diz respeito à for-
mação”, afirma. “Quando me pergun-
tam se eu prefiro o teatro, o cinema ou
a televisão, peço que deixem o teatro
fora disso, porque ele não se compara a
nada. É a base. E por isso nunca parei”.
Comédia do autor argentino
Matías del Federico, de apenas 36
anos, Baixa Terapia reúne Fagundes e
sua família no palco há dois anos, um
sucesso que continuará lotando as salas
por onde passa pelo menos até o fim de


  1. Ele contracena com o filho Bruno,
    a atual esposa, Alexandra Martins, e
    a ex-mulher, Mara Carvalho. Não foi
    proposital, nem uma oportunidade de
    se reconectar aos entes queridos após
    tanto tempo de uma rotina louca de


O TEATRO É


A PÁTRIA DO


ATOR. É NELE


QUE O ATOR


OUSA, ERRA,


ARRISCA-SE,


APRENDE A


SER HUMILDE

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