Carbono Uomo - Edição 13 (2019)

(Antfer) #1
Livros | EMILIO FRAIA

O senso comum diz que lemos para saber mais. Mas, não raro, é
possível chegar ao fim de certos livros sabendo menos: com mais
dúvidas do que no início, e os argumentos que antes pareciam
firmes agora começam a escorrer.
Ler dessa forma, com essa abertura, é um jeito de ler.
Para algumas funções, não é muito prático. Além de escrever, eu
trabalho como editor e muitas vezes me pego lendo com a aten-
ção carregada por um enxame de questões que emergem de cada
problema, de cada pequena solução (o editor lê muito e precisa
sempre falar claramente sobre a trama, o contexto da obra, a vida
do autor. O editor lê bem, o editor lê mal).
Sobre maneiras de ler, Witold Gombrowicz, escritor polo-
nês, costumava dizer que não existe nenhum elemento específico
capaz de definir um texto como poético. A noção de função po-
ética da linguagem, criada por Jakobson (uma função específica
que se manifestaria na atividade poética e que implica em certa
distância com relação ao uso normalizado da linguagem), essa
noção nunca existiu.
Ler, para Gombrowicz, era uma disposição. Mas somos li-
vres para ler de modos diferentes daquele que habitualmente le-
mos? Ou somos prisioneiros de um jeito específico de ler tanto
quanto somos prisioneiros do nosso destino?
A lista de livros a seguir não é uma lista acabada. São livros
de que gosto, mas poderiam ser outros também. Em todos eles,
no entanto, há a possibilidade (se lidos de determinada maneira)
de se chegar ao fim com mais dúvidas do que se começou.

LER:


modo de usar


Autor de Sebastopol, Emilio Fraia fala sobre possíveis
sentidos da leitura e elenca títulos que o marcaram,
de uma lista “não acabada”

Retrato Renato Parada
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