Sempre frequentei o Jardim Botânico, bairro
em que morei durante oito anos – até me mu-
dar para o vizinho, a Gávea, em 2018. Durante
muito tempo, a partir da década de 1980, meu
pai, o chef Claude Troisgros, comandou res-
taurantes na vizinhança, inclusive o Olympe,
do qual sou chef. Ainda que tenha saído do
Jardim Botânico, o bairro continua em minhas
rotas diárias, justamente por causa do trabalho
e por ser onde minha mãe mora atualmente.
Embora tenha dividido meus anos de for-
mação entre o Rio e Nova York, onde estu-
dei, lembro mais dos meus tempos no Jardim
Botânico. Nunca fui muito de praia, então o
Parque Lage era um dos meus lugares favo-
ritos. Ali perto jogava bola em um campinho
bastante famoso, que se chama Maconhão.
Nos 36 anos em que o Olympe está na
região, muita coisa mudou no Jardim Botâ-
nico. Majoritariamente residencial, o bairro
passou por um boom gastronômico impulsio-
nado pela iniciativa do meu pai. A rua Maria
Angélica hoje está tomada de restaurantes.
Com eles, chegaram outros tipos de comércio.
A vida noturna por lá, no entanto, ain-
da deixa a desejar. O bairro tem muitas
casas tradicionais, mas não atraem muitos
jovens em busca de novidades. Quando eu
era mais novo e queria ir para festinhas, os
destinos certos eram Ipanema e Leblon. É
claro, a Globo fica na outra ponta do Jardim
Botânico, e isso ainda me ajuda nos negó-
cios. O pessoal que mora por ali, como o
Zeca Camargo e o Tadeu Schmidt, são gran-
des frequentadores do Olympe. Mas, diferen-
temente de São Paulo, ainda não houve por
aqui uma explosão da coquetelaria. O cario-
ca acorda cedo para malhar e se exercitar na
praia, por isso ainda prefere uma cervejinha
ou uma caipirinha no fim da tarde. Sem um
metrô por perto, dificulta a renovação.
Das vantagens do Jardim Botânico, com
certeza a principal é a proximidade com a na-
tureza. O Corcovado está bem perto, a Lagoa
fica a duas quadras. Para quem gosta de ficar
ao ar livre, é muita facilidade. Eu não malho
tem uns dois anos, mas antes conseguia man-
ter uma rotina de correr e andar de bicicleta
pelo menos três vezes por semana na região.
O bairro também é perfeito para quem ama
arte, com galerias espalhadas em muitas de
suas ruas. Bons exemplos são a nova Carpin-
taria, no Jockey Club, e a Livre Galeria.
E s e você acha que carioca não sabe como
fazer e saborear uma boa pizza, a solução tam-
bém está aqui no Jardim Botânico. Com a che-
gada da Ella e de algumas outras pizzarias à
região, estou enxergando uma mudança cultu-
ral das pizzas aqui na cidade. Melhorou mui-
to. Faz tempo que não vejo ninguém colocar
ketchup na pizza. A Ella e outros bons passeios
para fazer no bairro você confere a seguir.
De alma francesa e com infância dividida entre os EUA e o Rio de Janeiro,
Thomas Troisgros fez do Jardim Botânico sua casa, seu local de trabalho e
um espaço de ótimas lembranças
Por Thomas Troisgros, em depoimento a Artur Tavares
Retrato Tomas Rangel
THOMAS TROISGROS