Carbono Uomo - Edição 13 (2019)

(Antfer) #1
BRUNO COVAS

Carbono Uomo


Como a prefeitura está vendo o aumento do número de


bicicletas? Isso incentiva a volta da construção de ciclovias?


Bruno Covas


Em relação à bicicleta, não há nenhum problema da
nossa parte. O que achamos é que a gestão anterior
fez ciclovia um pouco como se joga orégano em
pizza: foi salpicando pela cidade. O que acabou fa-
zendo com que grande parte da população ficasse
com ódio da bicicleta. Essa é a pior herança da ges-
tão anterior. Não é nem a construção, é essa cizâ-
nia que se criou, transformando algo que sempre foi
visto como simpático e agradável numa grande dis-
cussão: bicicleta x carro. Encomendamos um plano
cicloviário para poder definir onde precisa ter ciclo-
via, ciclofaixa e ciclorrota. Não adianta ciclovia que
liga nada a lugar nenhum. A do Jockey, por exemplo,
só tem uso aos fins de semana, quando você tem in-
tegração com os parques. As ciclovias precisam ter
conectividade e alimentar em especial as estações
de trem e metrô. Ninguém sai para trabalhar de bici-
cleta de Parelheiros até a Paulista. Você sai de casa
até o ponto mais próximo e aí faz a integração com
o sistema de transporte. A partir do estudo devemos
fazer a requalificação de 350 quilômetros de ciclo-
vias e a ampliação de 170 quilômetros.

Neto de um dos fundadores do PSDB, Bruno Covas assumiu


a Prefeitura de São Paulo em 2018 e, na contramão de


muitos, vem fugindo de grandes obras para focar em ações


pulverizadas que mudam a história da cidade


Por ser um ambiente em que se disseminam ódio e fake news,
as redes sociais passaram a ser encaradas como um dos
maiores males dos tempos modernos por muitas pessoas. O
atual prefeito de São Paulo, Bruno Covas, no entanto, sai em
defesa delas: “Eu acho que as redes sociais trouxeram um
aperfeiçoamento do regime democrático, porque aproximam
mais representante de representado”, disse ele à Carbono du-
rante um almoço em um restaurante no bairro do Itaim, em que
alternou momentos bem-humorados com reflexões sobre o
poder. “Hoje é muito difícil você escutar que fulano é que
nem Copa do Mundo, só aparece de quatro em quatro anos.
Você vai acompanhando diariamente o político”, completou.
Neto do governador Mário Covas, um dos fundadores do
PSDB, Bruno, de 39 anos, assumiu a prefeitura em abril de
2018, depois que João Doria deixou o cargo para disputar

(e vencer) o governo do estado. Na contramão de muitos polí-
ticos, tem evitado uma guinada aos extremos, permanecendo
mais ao centro. “O mundo está vivendo essa dificuldade da
intolerância religiosa, da intolerância sexual, da intolerância
de gênero, de quem pensa diferente. É muito difícil você ter
opiniões que vão mais para o centro no campo ideológico,
o que significa apanhar dos dois lados. Tem que manter a
tranquilidade”, afirma ele.
Apesar dessas – e de outras – dificuldades da vida públi-
ca, Bruno declara que governa com muita satisfação: “Nada
mais prazeroso para quem gosta de fazer política do que
ser prefeito”. Segundo ele, uma de suas maiores conquistas
até então foi a drástica redução das filas em creches, graças
às 50 mil vagas criadas. Já sobre um ponto crítico de seu
mandato, “essa eu deixo para os meus opositores falarem”.

Por Artur Tavares e Bruno Porto Retrato Raphael Briest

Carbono Uomo
E sobre o boom dos patinetes?

Bruno Covas
No início de janeiro, nós montamos um grupo para
discutir a regulamentação do patinete na cidade.
Em maio, anunciamos uma regulamentação provisó-
ria que tem, entre as principais regras, o uso obriga-
tório de capacete e a proibição da circulação pela
calçada. O poder público não acompanha a veloci-
dade das novas tecnologias. Mas cabe a ele regu-
lar esse embate de utilização do viário. Você passa
pela Faria Lima, pela Paulista, e vê esse conflito que
se criou entre a bicicleta, o patinete e o pedestre.

Carbono Uomo
Como está a questão do Elevado João Goulart, o Minhocão,
que o senhor optou por transformar em um parque suspenso?

Bruno Covas
Contextualizando, já existia uma lei municipal que di-
zia que, a partir de 2024, o Minhocão não poderia
mais ser utilizado como viário. Essa decisão foi toma-
da pelos vereadores por meio de uma lei municipal.
Portanto, só restava à prefeitura definir se seguia na
linha da criação de um parque ou na linha de der-
rubar. Preferimos o parque. Neste primeiro semestre,
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