Carbono Uomo - Edição 13 (2019)

(Antfer) #1

Carbono Uomo


Como é ser um político tão jovem para a média?


Bruno Covas


Não esperava assumir a prefeitura tão rápido. Mas
nada mais prazeroso para quem gosta de fazer
política do que ser prefeito. Ainda mais da cidade
de São Paulo, que é a capital da América Latina,
não é nem do Brasil. Não tem nada que seja mais
próximo do dia a dia das pessoas do que a prefei-
tura. Muito embora as grandes decisões sejam do
estado e da União, o dia a dia das pessoas está
relacionado ao poder municipal. A pessoa sai de
casa, tropeça num buraco e me xinga. Vai atrás
de remédio no posto de saúde e diz que eu sou o
responsável. Até mesmo quando quebra a escada
rolante do metrô as pessoas entram no meu Insta-
gram para reclamar. Mas nada melhor que isso
para quem gosta de política.

Carbono Uomo


Como separar o Bruno prefeito do Bruno ser humano?


Bruno Covas


Não tem como distinguir. Eu sou prefeito 24 horas
por dia, sete dias por semana. Já aconteceu de
estar em um bar com amigos e alguém vir recla-
mar de IPTU, de buraco na rua. Faz parte. Não
tem como querer ser agressivo, não ter conversas
como essas. Tem que estar preparado para fazer
isso a todo momento. O que eu tento separar é o
principal do acessório. O principal é ser prefeito
de São Paulo. E quando eu tenho um tempo livre,
consigo ficar com o meu filho, sair com os meus
amigos, ter um pouco de lazer. Mas a cidade de
São Paulo tem inúmeros problemas, não dá para
querer muito tempo livre, não.

Carbono Uomo


Como é a rotina com seu filho, Tomás, de 13 anos?


Bruno Covas


Eu tenho guarda compartilhada com a mãe dele.
Ele fica uma semana comigo, uma semana com ela.
Trocamos toda semana, normalmente aos domin-
gos. Ele é torcedor fanático do Santos. Ele é tão
fanático que ontem arranjou uma camisa do Bahia
para passar o dia na escola, porque o Bahia ga-
nhou do Corinthians.

Carbono Uomo


Acha que ele vai ser político?


Bruno Covas
Difícil saber. Mas muita coisa do que ele vê em
casa é política. Eu quero que ele faça o que qui-
ser fazer, que seja feliz. Não tem nenhuma impo-
sição. Mas ele gosta bastante. Ele pergunta por
que precisa fazer a reforma tributária, por que os
ônibus ainda não estão com ar-condicionado. Ele
é superpolitizado. Ano passado, ele entrava no
Instagram particular dos professores que estavam
votando no Haddad e botava #bolsodoria (risos).
Ele provocava.

Carbono Uomo
O senhor tem a percepção de que o poder é momentâneo?

Bruno Covas
Eu já fui e deixei de ser neto de governador, né?
Você percebe claramente que tem gente que desa-
parece. Já senti isso, já estou prevenido. Eu lembro
no dia do velório do meu avô, no Palácio dos Ban-
deirantes. Minha avó foi entrar no elevador, e o
guarda falou: “Não, aqui é só para o governador
e a família dele. A senhora precisa usar a escada”.
Ela falou: “Claro”, e foi de escada. Se o Alckmin,
que estava assumindo, tivesse sabido na hora, ele
teria tido um negócio.

Carbono Uomo
Quais são os seus planos para o futuro próximo?

Bruno Covas
Difícil estabelecer. A candidatura majoritária, como
disse, nunca depende só da vontade individual.
Qualquer estagiário começa numa empresa que-
rendo chegar à direção. Como na carreira política.
Mas para isso você precisa plantar, não adianta só
querer colher. É muito mais o problema do dia do
que ficar pensando 2020 é isso, 2022 aquilo. Se
você ficar pensando em 2020, deixa passar 2019.

Carbono Uomo
O Legislativo seria uma opção interessante?

Bruno Covas
Eu adoro. É muito melhor começar pelo Legislativo
e ir para o Executivo do que o reverso. Geralmente,
quem faz o caminho contrário acaba se frustrando
muito. O Legislativo não anda na velocidade que
anda o Executivo. Eu já escutei de um deputado,
que só tinha sido prefeito, que para ele o Legisla-
tivo é como andar na esteira: você anda, anda, se
cansa e não sai do lugar.

Entrevista
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