Há algo de cativante nas imensas foto-
grafias de fundo preto que marcam o
trabalho de Gabriel Wickbold. Sobre a
vastidão do negrume explodem retratos
hipercoloridos, big bangs particulares
dentro de um universo experimental. Ho-
mens azuis com tintas laranja jogadas em
suas faces, mulheres com asas de maripo-
sas no lugar dos olhos, silhuetas etéreas
(deuses?) formadas de luz em completo
movimento. Descomplicadas em compo-
sição, são extremamente poéticas, frutos
de uma mente criativa e, claramente, em
louca efervescência. Menino de ouro
da família Wickbold – sim, aquela dos
pães de fôrma! – o artista brasileiro de
faturamento impressionante, que chega a
R$ 500 mil por mês, acaba de embarcar
em “uma aventura de ganhar o mundo”,
como ele mesmo diz.
No dia em que abriu sua primeira
exposição individual em Londres, em
maio, Gabriel pegou o telefone para
falar a esta Carbono Uomo sobre o
poético verbo “sonhar”, aquele que tem
motivado sua vida desde 2006, quan-
do, em uma viagem pelo Brasil, trans-
formou pela primeira vez a câmera em
uma forma de expressão. Depois de 45
dias subindo pelo rio São Francisco, em
uma rota que começa em Minas Gerais
e termina no Oceano Atlântico, na di-
visa entre Sergipe e Alagoas, tinha 10
mil imagens e outros milhares de ideias
na cabeça. Na época era produtor
musical e entendia bem aquela “ne-
cessidade muito grande que o artista
tem de passar sua mensagem adian-
te”. Ali, percebeu que sentia o mesmo:
“A minha grande descoberta com a
linguagem da fotografia foi de como
emocionar as pessoas, como chegar a
um lugar inusitado. Foi a primeira vez
Gabriel Wickbold
A MINHA
GRANDE DES-
COBERTA COM
A LINGUAGEM
DA FOTOGRA-
FIA FOI DE
COMO EMO-
CIONAR AS
PESSOAS
que senti isso acontecendo comigo. Eu
tinha uma facilidade muito grande de
dirigir os retratos sem falar nada. Só
olhando, me expressando, algo muito
natural, fluido. Entendi a fórmula que
era a minha”, ele diz.
De volta a São Paulo, cidade que o
abraçou, o menino carioca transformou
seu estúdio musical, no bairro da Vila
Nova Conceição, em um fotográfico.
Convidou modelos até lá, pediu que to-
dos ficassem nus e os banhou de tinta.
Potentes, as imagens deram origem à
sua primeira coleção, Sexual Colors, de
- O sonho começava a virar reali-
dade: “O que aprendi com o mercado
foi que nós, artistas, temos que ter uma
assinatura muito forte”, explica. De lá
para cá, fotografou outras quatro séries