Ana Maria Domingues de Oliveira
Docente aposentada do Depto. de Literatura
Unesp –Assis
Artigo de Ana M D Oliveira
Na poesia de Cecília Meireles, há
uma presença que se desenha em
muitos poemas: a morte. Talvez a
frequência do tema seja em
decorrência dessa familiaridade com
asquestões do Efêmero edo Eterno,
como ela mesma disse. A morte, em
seus poemas, é uma força poderosa
quenosafastadaquelesque amamos,
masé,aomesmotempo,umaformade
transcendência que faz, dos que por
ela passam, seres superiores,
finalmente livres dos limites da
precáriaexistênciahumana.Osmortos
dos poemas cecilianos são seres
superiores,sábioseincorruptíveis.
Outro tema muito constante na
obra de Cecília é o mar, a
representação perfeita daquilo que é
aomesmotempoefêmeroeeterno,
sempreomesmoesempreoutro.Omar
éainda,ocaminhoporondesetransita
deumlugaraoutro,imagempoderosa
no universo da escritora que se
orgulhava de suasorigens insulares:a
mãe ea avó eramnascidas naIlha de
SãoMiguel,nosAçores.
Maremorteaparecemmuitasvezes
associados, criando uma figura
importante na obra de Cecília: o
afogado, que é recorrente em seus
livros, sempre como um símbolo da
condição de incorruptíveis que os
mortos adquirem ao sair da vida. É
exemplar, neste sentido, o poema
“Doze”dosDozenoturnosdaHolanda,
em que se repetem os versos “Sem
podridãonenhuma,jazeráumafogado/
noscanaisdeAmsterdão”.
Omarétambémrepresentadopelos
seussons,o quenoslevaaoutrotema
importante na poesia de Cecília: a
música.Sãoincontáveisospoemasque
fazemreferênciaaessaarte,tãoquerida
paraaescritora.Muitostítulosdeseus
livros, inclusive, incluem palavras do
universo musical, desde as Baladas
paraEl-Reiaté Canções,passandopor
Vagamúsica.