Paixão Pelo Vinho - PT - Edição 83 (2021-Trimestral)

(Maropa) #1
edição 83 • Paixão Pelo vinho • 67

de a sua origem até ao seu consumo”.
E tudo é um processo emotivo porque se
criam expectativas e é preciso saber geri-
-las, alerta o enólogo: “Damos o nosso
melhor e esquecemo-nos que na vinha, a
natureza manda bastante. O vinho é uma
matéria viva onde também não controla-
mos tudo, apesar do conhecimento cientí-
fico se ter desenvolvido muito. Por isso há
muita emoção”.
Sobre a forma como lida com as tendên-
cias, Pedro é perentório ao afirmar que é
preciso “estar atento e saber lê-las”, mas
que nunca se deve “deixar de ter um foco
muito grande naquilo que é a construção
de cada vinho”. E explica: “se há vezes em
que ir atrás de tendências pode fazer todo
o sentido, há outros contextos na produção
de vinhos em que não podem, nem devem
determinar o rumo que está escolhido”.
Castas tradicionais e na maioria nacionais
Falando sobre as castas presentes nas vi-
nhas da FEA, o enólogo diz que são valo-
rizadas “sobretudo as castas tradicionais
alentejanas e portuguesas, apesar de, na-
turalmente, também terem algumas castas
de introdução mais recente no Alentejo
sejam elas portuguesas ou estrangeiras”.
Entre as predominantes estão, nas brancas,
Antão Vaz, Arinto e Roupeiro e, nas tintas, a
presença dominante é da Trincadeira, Ara-
gonez, Alicante Bouschet e Castelão.
O responsável destaca ainda a qualidade e
o trabalho que tem vindo a ser feito: “As
vinhas da Fundação tem um trabalho de
base e de seleção muito cuidada e de vá-
rias décadas das videiras que não foi inicia-
do por mim, mas para o qual tenho con-
tribuído e que tenho mantido. As nossas
vinhas são sempre plantadas com material
originário das nossas vinhas”.


PÊra-manCa
a hiStÓria de um VinhO de eXCeÇÃO
Dentro do portfólio de vinhos produzidos
pela FEA, o destaque é para o Pêra-Manca,
“um ex-libris da Fundação e do panorama
vitivinícola nacional e estrangeiro”, refere o
enólogo.
O nome deriva da toponímica “pedra
manca” ou “pedra oscilante” e as primei-
ras referências ao vinho remontam à Idade


“Os meus primeiros anos dedicados
à FEA foram na área da viticultura, o
que me permitiu ter um conhecimento
bastante profundo daquilo que é o
património vitícola da Fundação”.


Média. No século XIX, a Casa Soares “trans-
formou o Pêra-Manca num vinho sofisti-
cado”, mas, posteriormente, na sequência
da crise filoxérica, deixou de o produzir”,
revela a FEA. Em 1987, o herdeiro da Casa
ofereceu o nome à Fundação Eugénio de
Almeida que decidiu usá-lo num dos seus
vinhos especiais e, em 1990, nasceu o
primeiro Pêra-Manca Tinto. Desde então
foram apenas produzidas mais quatorze
colheitas, em 1991, 1994, 1995, 1997, 1998,
2001, 2003, 2005, 2007, 2008, 2010, 2011,
2013 e 2014.
Agora chega mais uma, a de 2015. O Pê-
ra-Manca resulta sempre da seleção das
melhores uvas, provenientes de talhões
especiais de vinhas com mais de 35 anos
da Fundação e a partir das castas Aragonez
e Trincadeira.

O GuardiÃO dO PÊra-manCa
No dia da apresentação do Pêra-Manca
2015, Pedro Batista fala um pouco da his-
tória deste “vinho de exceção” e explica
que o segredo do mesmo “é ter grandes
uvas”. O ‘guardião do Pêra-Manca’ sub-
linha, ainda, que é “fundamental muito
acompanhamento, muito trabalho e muita
atenção, para não estragar o que a nature-

za dá” e aponta que há três momentos em
que percebe se vai ou não haver qualidade
para a produção de um Pêra-Manca: “O
primeiro é na prova da uva quando decidi-
mos vindimar aquelas parcelas e em que se
percebe se há ali potencial; já o segundo
é no final da fermentação em que a uva é
vinho e em que também persentimos de
alguma forma que aquilo que sentimos no
campo está efetivamente ali a materializar-
-se em vinho e depois há o momento em
que nos estamos a aproximar do final do
estágio e de fazermos o lote final”.
Pedro Baptista enfatiza ainda a importân-
cia do estágio e que “faz parte do conceito
do Pêra-Maca”, ou seja, “estagiar, não nas
tradicionais barricas de 225 litros, mas em
tonéis de 3 e 5 mil litros de capacidade
que permitem um contacto com a madei-
ra mais lento e mais gradual e garantem
que a evolução se faz de forma lenta e
subtil”. Isto é essencial para o processo do
desenvolvimento do vinho que depois de
engarrafado, “fica nas caves subterrâneas
do Mosteiro da Cartuxa, que têm ótimas
condições de temperatura e pouca lumi-
nosidade”. É aí que o Pêra-Manca faz “a
evolução em garrafas até ao momento de
ver a luz do dia”, ressalva.
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