CAPÍTULO 03
RISCOS E AMEAÇAS • ANÁLISE
A
situação do saneamento básico no Bra-
sil é vergonhosa. Podemos dizer que de
todas as mazelas sociais e ambientais
do país, talvez nada se compare ao descomunal
impacto à natureza e ao cidadão causado pela
ausência da infraestrutura mais elementar - os
serviços de água tratada e de coleta e tratamen-
to dos esgotos. Dados do Ministério das Cidades
(base 2013) mostram que ainda temos cerca de 35
milhões de brasileiros sem acesso à água trata-
da, mais da metade da população não tem acesso
à coleta dos esgotos e somente 39% dos esgotos
do país são tratados antes de serem lançados na
natureza. Significa que 61% de todo o esgoto do
país segue para fossas, rios, lagos, reservatórios,
bacias hidrográficas e aquíferos da forma como
sai dos nossos banheiros. É um volume equiva-
lente a 5 mil piscinas olímpicas de esgoto por dia
sendo jogado irresponsavelmente na água que
depois temos que tratar para beber.
O Brasil viveu um “apagão” no setor sanitário de
pelo menos duas décadas; a falta dessa infraestru
tura se tornou ainda pior nas megalópoles como
São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, entre outras
onde esgotos foram sistematicamente lançados
em rios e no mar tornandose ícones do desprepa
ro. Bairros famosos foram construídos sem redes
de coleta de esgoto, consequentemente também
sem as estações de tratamento. Regiões muito im
portantes para o turismo, como o Norte e Nordeste,
atualmente são as que possuem os maiores desa
fios. Menos de 10% da população do Norte têm co
leta de esgoto. Já no Nordeste, um pouco mais de
25% da população têm coleta de esgoto.
A falta de serviços regulares de saneamento
básico, portanto, está por toda parte, dos bairros
mais nobres às favelas mais carentes, mas é cer
to que a maior indefinição esteja nas áreas mais
pobres e nas milhares de áreas irregulares es
palhadas pelas cidades do país. Apesar do cres
cimento econômico e da transferência de renda
que vivemos nos últimos anos, os dados do Cen
so 2010 do IBGE mostram que no Brasil ainda
temos mais de 11 milhões de pessoas morando
somente nestas áreas irregulares, sendo que os
estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Bahia
e Pernambuco concentram as maiores popula
ções nessa situação. Somente esses 5 estados
respondem por quase 8 milhões dos brasileiros
vivendo em aglomerados subnormais (cerca de
70% do total).
Se olharmos a perda de água potável nos sis
temas de distribuição, por motivo de fraudes no
sistema, erros de leitura dos hidrômetros ou va
zamentos, veremos que no Brasil está na média
de 37%, então é bom ver cidades como Limeira e
Campinas, em São Paulo, que sistematicamente
desenvolvem ações de combate às perdas, tais
como a redução da pressão nas redes, investi
mentos na troca de redes, automatização na de
tecção de vazamentos, educação da população
para o uso racional.
A realidade ainda é mais assustadora quando
vemos que no Brasil há mais escolas conectadas
à internet do que dotadas de sistema de coleta de
esgoto. A cobertura das escolas com rede de esgo
to, entre 2010 e 2014, cresceu meros 5 pontos per
centuais, de 42% para 47%, enquanto o de escolas
com internet saltou de 47% para 61%. Os dados
são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e mostram
como o saneamento está atrasado no País.
Até quando deixarem os milhões
de brasileiros sem águ a e saneamento?