Mundo em Foco Extra - Água (2019-07)

(Antfer) #1

H


á muitos anos se fala sobre a importância
de poupar recursos hídricos, ou então que a
água será o principal causador de uma pos-
sível terceira guerra mundial. Bom, poupar água é
importante, de fato, mas a parte da guerra é pura
especulação. Entretanto, o que se sabe mesmo é
que, se hoje a água é importante, no futuro será
ainda mais, podendo ser considerado por alguns o
ouro do terceiro milênio.

Quando falamos de fontes de abastecimento
com água potável imediatamente nos vêm à cabeça
os rios, os lençóis freáticos e os lagos, mas nem sem­
pre pensamos em um aquífero. O mais interessante
é que os aquíferos são enormes reservas de água, e
o tema fica mais legal ainda quando novos aquífe­
ros são encontrados, a exemplo do que aconteceu
na região Norte do Brasil.

O Aquífero Alter do Chão apresenta rochas per­
meáveis que garantem uma infiltração da água das
chuvas mais rápida, o que permite seu deslocamen­
to interno e, por sua vez, a filtragem do recurso. Des­
de 2010, ganhou o posto de maior aquífero do mun­
do em volume de água, o que o configura como uma
das mais importantes reservas naturais. O aquífero
Alter do Chão fica em uma parte da região amazô­
nica, entre os estados do Pará, do Amazonas e uma
pequena parte de Amapá.

Cientistas de todo o mundo já conheciam o re­
servatório na Amazônia, mas foi no início dessa
década que descobriram o real tamanho do aquí­
fero. O volume de recurso hídrico naquele local é
de 86,4 mil km³ de água. Para se ter uma noção, é
mais do que o dobro da reserva do Aquífero Gua­

Em busca da terra perdida... ops,


da água perdida!


rani, que está na segunda posição mundial com 37
mil km³ de água. A diferença entre os dois está na
extensão da área de ocupação, pois o Guarani ain­
da é maior.

O aquífero Amazônico é do tipo misto, ou seja,
possui uma parte superior com apenas 50 metros de
profundidade e uma parte inferior, que pode chegar a
430 metros, segundo informações da Companhia de
Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM) – que é o Servi­
ço Geológico do Brasil. As formações rochosas são se­
dimentares e, em sua maioria, compostas por arenito
e argilito. Por isso, a perfuração se torna mais fácil.

De ponta a ponta são 437,5 km² de extensão, e
diversas cidades da região norte fazem bom uso de
seus recursos. Agora, nem sempre o ser humano é
generoso com a natureza e demonstra, em diversas
ocasiões, que ainda tem muito que aprender. Isso
porque Manaus, capital da Amazônia, utiliza o re­
servatório para suprir 40% de toda a demanda de
sua população. Em contrapartida, ao invés daquele
município lutar em prol da preservação do aquífero,
acabou se tornando a cidade mais poluidora de toda
a reserva, graças a problemas causados pela falta de
tratamento da água e saneamento básico precário.
Os manauaras não são os únicos vilões. O forte cres­
cimento da agropecuária na região está se tornando
uma ameaça ao aquífero Alter do Chão, tendo em
vista que os agricultores e pecuaristas fazem uso de
produtos químicos despejados irregularmente no
solo. Esses produtos, mais cedo ou mais tarde, uma
hora chegarão ao reservatório.

O grande volume de água no Aquífero Alter do
Chão se dá pela formação rochosa superporosa do
local e a quantidade de chuvas existentes na região,
gerada pela umidade do ambiente da Floresta Ama­
zônica. Entretanto, o poder público e a sociedade ci­
vil precisam, urgentemente, garantir a manutenção
do espaço e a não degradação do meio ambiente.
Caso contrário, o maior aquífero do mundo seria
colocado à prova.
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