Colocando a
CASA EM ORDEM
acontecer. De maneira geral, os apelos populares que
sensibilizam a mídia e influenciam as decisões gover
namentais dizem respeito aos problemas do momento,
e não do que está por vir”, analisa.
Direto ao assunto e sem medo de gerar polêmica,
o professor Luis Antonio Bittar Venturi, livre docente
do Departamento de Geografia da Universidade de São
Paulo, acredita que a “maior ameaça ao abastecimento
de água é uma gestão ineficiente. A água é o recurso na
tural mais abundante do planeta. Limitada é a capaci
dade do homem de captar, tratar e distribuir, ou seja, de
planejar. Mesmo em regiões áridas, não se pode culpar
a natureza, caso haja populações vivendo lá sob estres
se hídrico natural, pois habitar esta ou aquela região é
uma decisão humana”. O docente também destaca: “se
uma população se estabelece em regiões naturalmente
áridas e não tem a capacidade de assegurar o abaste
cimento, a natureza não tem nada a ver com isso. Os
vários ecossistemas terrestres funcionam muito bem
com as determinadas quantidades de água (desertos,
estepes e florestas etc.)”, destaca.
Em termos de oportunidades, afirmase que o Bra
sil é um país privilegiado, em razão da quantidade de
água disponível. Segundo Luis Antonio Bittar Venturi, “o
que precisamos para o futuro é criar a infraestrutura
necessária para assegurar o abastecimento. No caso da
Grande São Paulo, temos que, urgentemente, aumen
tar a capacidade de tratamento de água que já existe
em abundância. Só a represa Billings poderia abastecer
mais de 5 milhões de pessoas, mas é subutilizada, pois,
além de estar poluída, ainda recebe 800 toneladas de
esgoto por dia e 5 mil toneladas de lixo. O problema é o
que se fez com nossos rios e reservatórios, além da nos
sa incapacidade de tratálos no ritmo suficiente para
atender a demanda”, explica.
Quanto ao futuro da água no Brasil, uma das preo
cupações passa pela promoção da integração entre as
instituições de ensino e os administradores da área. O
professor da USP, Luis Antonio Bittar Venturi, analisa
que a relação entre a academia e a gestão pública ainda
é fraca. “Os administradores públicos deveriam aprovei
tar mais do conhecimento gerado nas universidades.
Por exemplo, há séries climáticas que, se bem analisa
das, podem subsidiar uma gestão hídrica mais eficiente,
prevendo períodos de maior aridez ou precipitação. As
sim, não seríamos ‘pegos de surpresa’ o tempo todo. De
veria haver mais geógrafos na administração pública, já
que se trata de um profissional capaz de enxergar a re
alidade social e natural de forma integrada”, conclui. l
suas nascentes principais. Com o desmatamento, au
mentase a evaporação e a estocagem de água no solo
diminui, o que afeta a perenidade dos cursos fluviais
que escoam para o reservatório na Cantareira”, explica.
O professor de Geomorfologia e Hidrografia também
enfatiza que há um mito de o país ser privilegiado nos
recursos hídricos, em função da densidade dos rios, po
rém não se percebe que muitos cursos d’água estão em
condição intermitente. Além disso, a conservação, esto
cagem e captação das águas para distribuição às pesso
as não é tarefa simples ou barata, levandose em conta
a necessidade de manutenção ao longo do tempo. Para
o professor Ricardo Toledo Silva, titular da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo (FAU), da USP, a crise hídrica
não reside no modelo brasileiro de gestão dos recursos
hídricos, mas na forma como o sistema é administra
do. Como ameaças ao futuro da água, o docente cita a
concentração de esforços para resolver problemas ime
diatos, deixandose de cuidar do conjunto. “Por exem
plo, quando se enfrenta uma situação de escassez dei
xase de lado medidas preventivas quanto ao controle
de inundações, que, no período de escassez, param de
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