Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

Mas a margarina não caiu no gosto do povo logo de cara. Ela era branquela e
causava estranheza. Quando veio a 2ª Guerra Mundial, a escassez de alimentos e
a necessidade de economizar, é que o produto se popularizou. Ainda mais
quando os fabricantes adicionaram corante, para deixar a margarina parecida
com a manteiga, e vitaminas A e D, já que aquele amontoado de gordura
hidrogenada não tinha valor nutricional nenhum.
Passaram-se 20 anos até que as pesquisas mostrassem que a gordura trans é
muito pior que a saturada. Um dos motivos é que ela altera os níveis de
colesterol no sangue, aumentando o ruim e baixando o bom, coisa que nenhum
alimento da natureza tem coragem de fazer.
Os fabricantes de margarina, então, trataram de tirar a gordura trans da
fórmula e encontrar outro jeito de transformar óleo em creme. A saída foi fazer
um processo de nome complicado, a interesterificação, que basicamente consiste
em alterar em laboratório a composição química da gordura vegetal para que ela
ganhe consistência. Para emplacar de vez a coisa, a indústria adicionou ao seu
novo produto alguns nutrientes que os cientistas passaram a identificar como
amigos do coração: vitaminas e ômega 3. O resultado foi a invasão de
margarinas “sem colesterol, sem trans, 100% natural”...
Parecia que a manteiga tinha perdido definitivamente a disputa pelo amor de
todos os pães. Mas, tchã-ran!, desde 2007, estudos sugerem que a tal gordura
vegetal interesterificada pode ser ainda mais nociva do que a trans. Aí o jeito
encontrado pelos fabricantes foi apelar para um óleo com maior teor de gordura
saturada e, portanto, mais durinho em temperatura ambiente: justamente o óleo
de palma, também conhecido como azeite de dendê. Você come gordura vegetal
para fugir da animal e acaba comendo o mesmo tipo – e quase na mesma
proporção – de gordura saturada. Se correr, o bicho pega. Se ficar, o bicho come.


A condenação da gordura mudou inclusive o hábito de consumir leite. Nos
EUA existem estatísticas sólidas sobre consumo de alimentos há mais de meio
século. Então os números de lá dão uma boa ideia sobre mudanças de hábitos
alimentares. O consumo de leite, por exemplo, caiu 38% de 1950 para cá. E foi
substituído por refrigerante e sucos prontos. As vendas da versão integral, que
antes representavam 92% do total, despencaram para 36%. No Brasil, o consumo
per capita de refrigerante supera o do leite em quase três vezes, mostram os
dados do IBGE.
As pessoas também comem muito mais queijo: o aumento per capita nos EUA

Free download pdf