de por que os orgânicos custam tão caro. Para isso, é preciso entender um pouco
melhor a realidade dos agricultores – seja dos de alimentos orgânicos, seja dos
de comida convencional.
NEGÓCIO ARRISCADO
O tomate é bom exemplo de como funciona essa cadeia produtiva. Em 2009,
dava para pagar 62 centavos por quilo nas centrais de abastecimento. Como as
vendas iam bem, os produtores começaram a destinar áreas maiores para o
cultivo. Mas a demanda não acompanhou o aumento da produção, e sobrou
produto. Em 2010, o quilo chegou a 50 centavos, uma miséria que não paga nem
os custos da colheita. Os agricultores, então, decidiram diminuir as plantações de
tomate. Só em Goiás, maior Estado produtor, a redução foi de 41,85% em dois
anos. Para atrapalhar, em 2012 teve excesso de chuva em São Paulo, Minas
Gerais e Paraná, e estiagem no Nordeste. Com a água em excesso ou seca, as
pragas se multiplicaram. Os tomates não resistiram e as colheitas acabaram num
fiasco. Junte isso ao fato de que as áreas reservadas ao plantio estavam bem
menores e o resultado é um só: escassez brava de tomate. Os que sobraram
foram disputados a tapa, por isso o quilo bateu os R$ 10 nos supermercados em
2013.
Ou seja: não é fácil ser produtor agrícola nem na lavoura convencional. Trata-
se de um negócio arriscado, em que variáveis imprevisíveis sempre podem
destruir as perspectivas de lucro. É por isso que existe tanto uso de pesticidas
para plantas e de antibióticos para animais
Pesticidas fazem frutas, verduras e legumes ficarem mais bonitos (e
vendáveis), porque matam as pragas que deixam marcas neles. Nós mesmos, os
consumidores, colaboramos para a perpetuação da cultura do pesticida. Porque a
gente faz bullying vegetal. Ou vai dizer que prefere um tomate mirrado, meio
torto e com uns defeitinhos na casca a um grandalhão, perfeitamente redondo e
brilhante? E morango fora de época, compra? Pimentão que parece de plástico,
de tão liso e colorido? Orgânicos costumam ser mais feiosinhos. Na produção
convencional, você pode descartar aqueles que não ganhariam concursos de
Miss, porque ainda assim teria um monte sobrando. Na orgânica, se aproveita
tudo, não só pelo número já reduzido, mas também porque beleza não é
documento: machucados ou formas assimétricas nem sempre querem dizer que a
comida não é boa.