Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

casa. Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo mostrou que 31% dos
recém-nascidos com menos de três meses de vida já tinham experimentado
açúcar. Até o sexto mês, 12% tomavam refrigerante, número que sobe para 20%
aos 9 meses. Bebês com menos de 1 ano de idade que tomam frequentemente
refrigerante chegam a 56,5%.
Seria muito cômodo pensar que as mães simplesmente perderam o bom senso
e resolveram engordar os filhos. A verdade é que as brasileiras já representam
44% da força de trabalho no País, segundo o Banco Mundial. Em 1990, eram
35%. O tempo para amamentar e fazer as refeições de casa diminuiu. A culpa e a
vontade de recompensar as crianças de todas as formas aumentaram na mesma
proporção. E o apelo da indústria é forte. Enquanto você lê estas linhas, tem um
monte de cientista dentro de laboratórios de grandes empresas escaneando
cérebros e desvendando como a comida estimula um dos mecanismos mais
poderosos da evolução humana: o centro de recompensa. No capítulo 1, a gente
conversa melhor sobre ele.
Em 1974, quando nossos pais, avós ou bisavós compravam algo para comer,
eles investiam a maior parte do dinheiro em arroz, feijão e vegetais variados,
segundo mostram os dados do IBGE. Nos anos 2000, nós fizemos uma mudança
nesse perfil. De lá para cá, compramos 32% menos alimentos como mandioca,
cenoura, batata e beterraba, 31% menos de feijão e 23% menos de arroz. Em
compensação, nossa lista de compras, se comparada à de nossos avós, teve um
aumento de 400% de refrigerante, 400% de biscoitos, 82% de refeições prontas,
300% de embutidos, 100% de frango e 23% de carne bovina. A única carne que
teve queda de consumo foi a de peixe: 41%.


Com o paladar acostumado a açúcar, sal, farinha e gordura, mais de 90% dos
brasileiros não atingem a recomendação mínima para o consumo de frutas,
verduras e legumes, que é de cinco porções por dia. Os americanos comem 20%
mais frutas, verduras e legumes hoje do que nos anos 70. E estão mais gordos e
doentes do que nunca. Talvez porque também subiram em 63% o consumo de
batata frita congelada e em 400% o de gordura vegetal – além de muito mais
açúcar. Não por acaso, o imposto sobre o refrigerante está em discussão em

Estados americanos. A ideia é cobrar 1 centavo de dólar por 30 mililitros da
bebida.
Quando a gente comia comida de verdade, controlava a quantidade de sal,
açúcar e gordura dos alimentos. Hoje, não fazemos ideia do que tem dentro de
uma lasanha congelada que espera meses no supermercado para ganhar um lar.
De onde vem aquela carne? E o molho, é feito de que exatamente?
O assunto entrou definitivamente na conversa de chefes de Estado, já que

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