Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

máquina de ressonância magnética. Lá dentro, um tubo colocado na boca deles
enviava separadamente três tipos de solução: uma neutra, outra com açúcar e
outra com óleo de canola. A neutra não fez nem cócegas no cérebro. Mas tanto a
açucarada quanto a gordurenta excitaram o centro de recompensa e geraram
descargas de dopamina, o hormônio do prazer.


Existe outro fenômeno que tanto a gordura quanto a farinha, o açúcar e o sal
dividem com o mundo dos entorpecentes: a tolerância. Do mesmo jeito que um
bebedor contumaz aguenta vários copos de chope antes de ficar bêbado, o
comedor profissional manda ver nesse quarteto até dar perda total nos órgãos.
E o negócio vai piorar. A ciência da alimentação superou a ficção científica e
já conta com réplicas fiéis do nosso sistema digestivo nos laboratórios, da boca
até o intestino, com sensores capazes de identificar a ação das substâncias. Hoje,
pesquisadores desenvolvem, com a ajuda dessas réplicas, glóbulos de gordura
que dão a sensação de maciez quando tocam a língua e se dissolvem mais
facilmente na boca, disparando rapidamente o sistema de recompensa do
cérebro. Também produzem partículas ainda mais finas de sal e açúcar com
poder adoçante 2 mil vezes maior.
A indústria não investe nessas tecnologias por “maldade”, claro. Ela faz isso
porque você gosta. Tire um pouco de açúcar do seu refrigerante e ele se tornará
repulsivo. Experimente uma bolacha sem gordura e você vai achar que está
comendo casca de árvore. Sem isso a indústria da comida não existe. E, como
qualquer indústria, ela é importante para a economia de qualquer país. É por isso
que, apesar de os governos se mexerem para tentar diminuir os custos com um
sistema de saúde atolado de doentes crônicos, mantêm uma relação de amor e
ódio com as empresas.
Um exemplo claro no Brasil foi o acordo que o Ministério da Saúde fez em
2011 com a indústria alimentícia para reduzir a quantidade de sódio e de gordura
nos alimentos até 2020. No mesmo ano, o Ministério concedeu ao McDonald’s o
título de Parceiro da Saúde. Mas espera um pouco: só um Big Tasty tem 104%
de toda a gordura saturada que um adulto pode comer no dia – ou seja, um
sanduíche já ultrapassa a cota. O Angus Bacon tem 97%, o Angus Deluxe tem
96%, o McNífico Bacon e o Quarteirão têm 64%. Ok, o Big Mac tem “só” 44%,
mas o restante do combo se encarrega de estourar o limite: uma McFritas grande
soma outros 30% de gordura saturada e o Top Sundae de chocolate, 34%. Se
optar por uma saladinha, a Premium Salad Crispy tem 35%, mais do que o
sundae. O Angus Deluxe é campeão em sódio, com 80% da recomendação

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