Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

PREFÁCIO


FARINHA DE TRIGO, AÇÚCAR E COCAÍNA


Por Denis Russo Burgierman*


Se um dia alguém resolver erigir um monumento em praça pública às boas
intenções frustradas do pensamento científico, podia ser uma grandiosa estátua
de um prato cheio de pó branco. Assim homenagearíamos de uma só vez três
enganos cientificistas: a farinha de trigo refinada, o açúcar branco e a cocaína.
Três pós acéticos e quase idênticos, três frutos do pensamento que dominou o
último século e meio: o reducionismo científico. Três matadores de gente.
Não é por acaso que os três são tão parecidos. Todos eles são o resultado de
um processo de “refino” de uma planta – trigo, cana e coca. Refino! Soa quase
como ironia usar essa palavra chique para definir um processo que, em termos
mais precisos, deveria chamar-se “linchamento vegetal”, ou algo assim.
Basicamente se submete a planta a todos os tipos de maus-tratos imagináveis:
esmagamento entre dois cilindros de aço, fogo, cortes de navalha, ataques com
ácido. Até que se tenha destruído ou separado toda a planta menos a sua
“essência”. No caso do trigo e da cana, o carboidrato puro, pura energia. No caso
da coca, algo bem diferente, mas que parece igual. Não a energia que move as
coisas do carboidrato, mas a sensação de energia ilimitada, injetada diretamente
nas células do cérebro.
Começou-se a refinar trigo, cana e coca mais ou menos na mesma época, na
segunda metade do século 19, com mais intensidade por volta de 1870. A tal
“cultura ocidental” adorou a novidade. Os cientistas ficaram em êxtase, porque
acreditavam que o modo de compreender o Universo é dividi-lo em pequenos
pedacinhos e estudar um pedacinho de cada vez (esse é o tal reducionismo
científico). Nada melhor para eles, então, do que estudar apenas o que importa
nas plantas, e não aquele lixo inútil – fibras, minerais, vitaminas e outras
sujeiras.
Os capitalistas industriais também curtiram a ideia de montão. Um pó refinado

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