Prato Sujo - Como a indústria manipula os alimentos para viciar você! ( PDFDrive )

(Ruy Abreu) #1

significa que têm rumem, um superestômago cheio de bactérias, que vivem ali
para tirar da grama os nutrientes necessários para o corpo. É um processo de
fermentação. E quando, em vez de mato, chega um monte de soja e milho – uma
comida bem mais gorda –, a fermentação é muito maior e gera acúmulo de
gases, que incham o estômago e pressionam o pulmão. Em alguns casos, isso é
fatal. Então, para evitar que o bicho morra, tome remédio nele: 70% de todos os
antibióticos usados nos Estados Unidos são os que vão misturados às rações dos
animais. O problema é que isso cria superbactérias resistentes a antibióticos. É
Darwin em ação: o remédio nem sempre mata todas as bactérias. Às vezes
sobram algumas que, por mutação genética, nasceram imunes ao remédio. Sem a
concorrência de outras bactérias, elas se reproduzem à vontade. Nasce uma cepa
de microorganismo mais resistente a qualquer antibiótico. Ela pode ser letal.
Ainda mais se for parar na prateleira do supermercado. Foi o que aconteceu com
uma variedade agressiva de Escherichia coli. Em 2001, o garoto americano
Kevin Kowalcyk, de 2 anos de idade, comeu um hambúrguer contaminado por
essa bactéria (veja ao lado).
No Brasil isso não é um problema. Só 6% do nosso abate vem de
confinamentos, contra 99% nos EUA. Aqui os bois ficam soltos. Bom para eles,
pior para as bactérias. Mas pior também para as florestas. Nossos pastos são
formados à custa de desmatamento da Amazônia e do cerrado. E isso leva o
Brasil ao posto de quinto maior emissor de CO2 do mundo. Quase 52% dos
nossos gases estufa vem do desmatamento.
Para frear isso de forma realista (porque parar de criar bois e de exportar carne
não tem nada de realista), a solução é o confinamento. Só que essa modalidade
de criação também não é a panaceia para o ambiente. Os galpões de gado
causam tantos impactos quanto uma cidade grande: lixo, esgoto, rios poluídos...
Até mais, na verdade. Para você ter uma ideia, 2.500 cabeças de gado produzem
a mesma quantidade de excremento de uma cidade com 411 mil habitantes,
quase a população de Florianópolis. Agora imagine: o Brasil é a China dos bois.
Temos mais gado do que gente. São 212 milhões de cabeças, uma multidão
bovina que, para efeitos sanitários, causa o mesmo impacto que 34 bilhões de
pessoas causariam.
Boa parte desse cocô vai para grandes lagos de esterco, que servem de parque
aquático para bactérias: elas podem passar desses lagos para o solo de uma
lavoura. Podem e conseguem. Só de recalls de vegetais contaminados já foram
20 na última década nos EUA. Em setembro de 2006, uma variação da bactéria
E. coli, que pode causar diarreia hemorrágica, falência dos rins e problemas
neurológicos, se alastrou por 20 Estados americanos. Em menos de 24 horas,
uma pessoa havia morrido, oito tiveram insuficiência renal e 90 estavam

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