(2016) Aventuras na História 156 - Os soldados de Deus

(AP) #1

ALMANAQUE Arqueologia do Futuro


GHOST IN THE SHELL


SÉRIE JAPONESA FOI VISIONÁRIA – AINDA QUE TALVEZ UM POUCO APRESSADA


TEXTO FABIO MARTON | FOTO DIVULGAÇÃO

S


e você é do tipo que fica com
urticária ao ouvir as palavras
mangá e animê, essa é uma
oportunidade para rever seus concei-
tos. A série de ficção científica inicia-
da em 1989 por Masamune Shirow
não pode ser definida como nada me-
nos que visionária. Ghost in the Shell
quer dizer, literalmente, “fantasma na
casca” – uma tradução melhor seria
“na carcaça”. O título se refere à ideia,
presente na série, de que pessoas têm
um espírito (o fantasma), e mesmo se
99% de seu corpo e cérebro (a carcaça)
forem substituídos por máquinas,
continuam a ser pessoas. A protago-
nista, a agente de crimes cibernéticos
Motoko Kusanagi, teve o corpo quase
inteiro substituído por tecnologia, e
ainda é considerada humana.
A história se passa em 2030 – mas
não vai ser tão cedo que teremos uma
singularidade tecnológica como na
ficção. Isto é, o conceito de humani-

dade, a diferença entre gente e má-
quina, começa a deixar de fazer sen-
tido, com a diferença se agarrando
num conceito místico como espírito.
Como quase toda ficção científica,
Ghost in the Shell não fala sobre o celu-
lar, um aparelho que faz tudo o que os
implantes cerebrais do gênero cyber-
punk prometiam, sem precisar se ar-
riscar em uma cirurgia. Internet,
como era comum nas previsões dos
anos 1980, é pura realidade virtual –
hoje usada só para videogames. E, por
ser série japonesa, não poderiam fal-
tar os mechas, os robôs com pernas.
Essa foi na trave: o Big Dog da Boston
Dynamics, robô de carga militar de-
senvolvido na década passada, fun-
ciona perfeitamente, mas foi vetado
pelo Pentágono por ser barulhento.
Agora, em acertos, temos várias
coisas que ainda são protótipos, mas
até 2030 podem estar por aí. Os mem-
bros de Kusanagi não são movidos

por motores elétricos, mas músculos
artificiais – uma das mais promisso-
ras tecnologias emergentes. A equipe
de Kusanagi é capaz de se tornar in-
visível, o que também está sendo de-
senvolvido – no Japão, inclusive. Por
enquanto, depende de projetores ex-
ternos. Ciborgues já são reais, até com
a capacidade de próteses transmiti-
rem sensações aos nervos – ainda que,
por ora, não seja coisa que dê pra
comprar na loja de material ortopédi-
co da esquina e nada indica que al-
guém irá trocar o próprio braço por
uma prótese. Inteligências artificiais
capazes de ser confundidas com hu-
manos já estão à porta: ano passado,
um robô de chat (isto é, só um progra-
ma) passou no Teste de Turing, fazen-
do com que o tomassem por uma pes-
soa. E androides, robôs humanoides,
ainda são feiosos, mas, se depender
do Japão, devem estar à venda em lo-
jas de eletrodomésticos até 2030.

Na série, as
próteses
transmitem
sensações
aos nervos – o
que já é real

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