(2016) Aventuras na História 156 - Os soldados de Deus

(AP) #1

O


conf lito com os ta-
moios seria decisivo
para a fundação do
Rio de Janeiro, uma
terra que parecia destinada a ficar
em mãos francesas. Para ajudar na
negociação com os portugueses,
Nóbrega e Anchieta permaneceram
entre os indígenas. Foram bem-re-
cebidos – tão bem que precisavam
rezar muito e fazer autof lagelação
frequente para lidar com o assédio
das índias que os maridos e pais
ofereciam. Um único episódio des-
toante quase levou os
dois ao martírio: um jo-
vem líder, muito amigo
dos franceses, perseguiu
os dois padres, que tive-
ram que correr muito e se
esconder até que os che-
fes o acalmassem.
A negociação não foi
muito longe, mas o tercei-
ro governador-geral,
Mem de Sá, acabaria des-
truindo o forte francês
Coligny e instalando os
portugueses na vila de
São Sebastião do Rio de
Janeiro, onde Nóbrega
construiu um colégio e
viveu até a morte. An-
chieta ainda tinha mais
duas décadas de trabalho
pela frente. Deixaria
como legado um conheci-
mento do idioma do gru-
po tupi-guarani, o início
de uma literatura produ-
zida no Brasil e uma lista
de conhecimentos das
plantas locais.

A partir do século 17, os jesuítas
estavam instalados como uma po-
tência. Desde 1580 não detinham o
monopólio sobre a pregação, mas
seus colégios formavam as elites
locais, suas fazendas (que conta-
vam com o uso de mão de obra es-
crava) forneciam alimentos para
todas as cidades. E, mais importan-
te, suas aldeias, centros autônomos
onde os índios viviam protegidos
dos colonizadores civis, protegiam
os locais da exploração exagerada.
Delimitado por Nóbrega, o concei-

to de aldeias provocaria atritos in-
tensos com os jesuítas que vieram
depois. Eles seriam cercados e ex-
pulsos, em diferentes ocasiões, em
todas as principais cidades do país.
Os conf litos foram especialmente
graves no Maranhão, graças a um
religioso português com vocação
para a confusão: Antonio Vieira.
Nascido em Portugal, educado
em Salvador, Vieira dividiria sua
atenção entre os assuntos dos eu-
ropeus e dos brasileiros. Na corte
em Lisboa, defendeu que os lusita-
nos deixassem Per-
nambuco com os ho-
landeses – na década
de 1630, parecia im-
possível aos portu-
gueses recuperar
aquelas terras. Diante
da pressão da coroa
espanhola, bolou um
plano que incluía a
instalação do rei João
IV no Rio de Janeiro,
mas nunca seria colo-
cado em prática.
No Brasil, Vieira se
envolveu principal-
mente com a coloniza-
ção da Amazônia e
com os conf litos com
as lideranças civis do
Maranhão, que insis-
tiam em tomar os ín-
dios para si e se irrita-
vam com a interferên-
cia jesuítica nos as-
suntos seculares. Em
um de seus muitos
sermões, de 1654, ele
se dirigiu aos mara-

O fim provisório


FOTOS GETTY IMAGES, SHUTTERSTOCK E WIKIMEDIA

O marquês de
Pombal
extinguiu a
Companhia de
Jesus em 1759

Vestígios das
missões
jesuíticas em
São Miguel,
no Rio Grande
do Sul

CAPA


38 | AVENTURAS NA HISTÓRIA

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