NUNCA MAIS
A declaração da independência foi
um momento importante de um pro-
cesso que se iniciou muitos anos
antes. A abdicação de Fernando VII
em favor de Bonaparte e seus exér-
citos franceses acelerou a desarticu-
lação de um desgastado Império
Espanhol. As mudanças na metró-
pole convulsionaram a sociedade do
Rio da Prata, a qual já desde as in-
vasões inglesas de 1806 e 1807 en-
contrava-se mobilizada como nunca
em sua curta História. A força de um
povo com capacidade de organização
e entediado com a rigidez espanhola
que fixava a ideia do controle e do
monopólio comercial, e a potência
das ideias liberais que vinham dos
Estados Unidos e da França criaram
um clima que culminou com a des-
graça da Espanha. A Revolução de
Maio de 1810 iniciou o que os histo-
riadores argentinos chamam de “a
longa década” da luta pela indepen-
dência, que teria um primeiro des-
fecho 14 anos depois, na vitória final
dos exércitos libertadores em Aya-
cucho, no Peru, que lutavam pela
independência hispano-americana.
Mas a Revolução de Maio definiu
pouco. Foi realizada em nome de um
rei aprisionado, e com uma aliança
heterogênea que envolvia persona-
gens tão diversos como o conserva-
dor Cornelio Saavedra, o presidente
da Primeira Junta de governo surgi-
da da Revolução de Maio, e Mariano
Moreno, um dos revolucionários com
os pensamentos mais radicais da
época. A primeira experiência patri-
ótica logo naufragou, assediada pela
reação da Coroa espanhola e pelas
dissidências internas, e começou um
longo período de desordem e guerra
civil, entre os que apoiavam a Coroa
- os “realistas” – e o bando da liber-
tação – os “patriotas”. A independên-
cia demorou a chegar pela incapaci-
dade de constituir um poder central
e legitimado. “Durante essa época se
enfrentam diferentes facções locais
com projetos contrapostos, que lutam
por muito tempo. Por isso há seis
anos de diferença entre a Revolução
e a independência: se estivessem to- FOTOS GETTY IMAGES E WIKIMEDIA COMMONS
dos de acordo em 1810, teriam-na
declarado nesse momento”, assegura
o historiador Gabriel DiMeglio.
Durante a década revolucionária
surgiriam diferentes projetos de li-
derança que foram transformando
o calor do fogo. O poder foi mudado
de mãos e também de ideias. De um
primeiro momento, em que Moreno
difundia ideias radicais, como a
igualdade política do índio ou a na-
cionalização das minas, passou-se
logo ao “Directorio” de Carlos Alve-
ar, o poder executivo encarnado em
uma pessoa, que buscava o controle
indiscutível de Buenos Aires sobre
o interior.
A Revolução de Maio nasceu com
mais estímulos que ideias claras en-
tre seus líderes, e essa falta de con-
dução, somada às dificuldades de
unir um território vasto e distinto,
criou as condições para que a inde-
pendência fosse um ato “inevitável”,
como diz o historiador Abelardo
Ramos. Foi essa lacuna, longa e an-
gustiante, que a assinatura dos de-
putados quis preencher.
O Congresso de
Tucumán foi o
ponto final
do ciclo
revolucionário
aberto na
Revolução
de Maio
AMÉRICA DO SUL
42 | AVENTURAS NA HISTÓRIA
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