(2016) Aventuras na História 156 - Os soldados de Deus

(AP) #1
GOLPE
No entanto, os lusitanos pro-
curavam fincar seu domínio
sobre os territórios que justa-
mente compõem o atual Mo-
çambique. Com isso queriam
evitar que ingleses (para
quem a região possuía valor
estratégico, principalmente
para Cecil Rhodes, homem
que comandava negócios por
lá), bôeres (que ocupavam
terras ao sul) e alemães (que
estavam ao norte) importu-
nassem-no. Foi quando – de-
pois de aborrecimentos com
os portugueses – Gungunha-
na estreitou relações e nego-
ciações com outros estrangei-
ros que o sinal de alerta soou
com mais força ainda entre os
que respondiam a Lisboa.
Para estes, derrubar o impe-
rador e acabar com o domínio
nguni em Gaza se tornara um
objetivo primordial.

DECADÊNCIA
É difícil dizer com exatidão o
que levou à derrocada do im-
perador, sua captura em 1895
e o consequente fim do Império de
Gaza, todavia. O cenário internacio-
nal contribuiu, claro. “Após a Con-
ferência de Berlim (1884-1885), acir-
raram-se as disputas pelos territó-
rios africanos e a posse da província
de Moçambique viu-se seriamente
ameaçada pelo interesse britânico e
por seu projeto expansionista de li-
gar o Cairo ao Cabo. Nesse contexto,
o sul de Moçambique era particular-
mente importante como escoadouro
natural de toda produção da África
do Sul. O anseio britânico de anexar
a região resultou no envio de repre-
sentantes ao poder que parecia de-

safiar e sobrepor ao de Portugal na
região – o Reino de Gaza. Diante da
ameaça crescente à posse da provín-
cia, o governo português reuniu es-
forços concentrados enviando as
tropas encarregadas de subjugar o
Reino de Gaza e garantir a ocupação
efetiva desse território”, aponta Ga-
briela Aparecida dos Santos na obra
Reino de Gaza: O Desafio Português na
Ocupação do Sul de Moçambique.
Fato é que as populações locais
tiveram uma participação central
nesse processo, talvez até mais de-
cisiva do que a ação direta europeia.
A maneira como Gungunhana lida-
va com o seu povo, ou parte dele, o

desgastou internamente,
fazendo com que os pró-
prios africanos questio-
nassem os seus abusos de
poder, contestassem sua
hegemonia e até se alias-
sem a lusitanos localizados
na costa da região para
derrubá-lo.
“Essa falta de hegemo-
nia, por sua vez, foi perce-
bida e habilmente usada
pelos portugueses em fun-
ção de reunir aliados para
derrotar o exército de Gun-
gunhana. Porém a resistên-
cia à presença portuguesa
foi igualmente grande, tan-
to de parte dos ainda apoia-
dores de Gungunhana, li-
derados por Maguiguane
Kossa, como por popula-
ções locais após a derrota
deste último”, relata Guerra
Hernández. Depois de ser
levado para Portugal e exi-
bido à população local, o
agora ex-imperador foi des-
terrado em Açores, onde
morreria em 1906.
E, segundo o professor
Guerra Hernández, a figura de Gun-
gunhana permaneceria controversa
mesmo dois séculos depois de sua
morte. “Ela é contestada principal-
mente pelas províncias no centro e
norte do país, pois não aceitam o
caráter nacional que o partido no
governo insiste em
lhe dar por ser apenas
um personagem his-
tórico sulista, mas
também no próprio
sul é contestado pelo
caráter estrangeiro e
autoritário com que
FOTOS DIVULGAÇÃO – CORTESIA DE CHOI EUN-HEE E REPRODUÇÃO | MAPA LUCIANA STECKEL dominou a região.”

LIVROS
Mulheres de Cinzas,
Mia Couto, Companhia das
Letras, 2015
Reino de Gaza, Gabriela
Aparecida dos Santos,
Alameda Editorial, 2010

SAIBA MAIS

Império


de Gaza


ZIMBÁBUE MOÇAMBIQUE

Á F R I C A
DO SUL

MALAUI

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AVENTURAS NA HISTÓRIA | 51

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