TEXTO FABIO MARTON | FOTO AFP PHOTO
CULTURA Foto-História
E
le definitivamente não era
um injustiçado: numa carrei-
ra que começou com peque-
nos golpes e evoluiu para sequestro
e latrocínio, Eugen Weidmann havia
deixado cinco mortos, todos assas-
sinados friamente por dinheiro. O
método também não era exatamen-
te cruel: a guilhotina pode ser tétri-
ca de assistir, porém o consenso
entre os médicos era que a morte se
dava de forma instantânea e indolor.
Mas havia a multidão. A prisão – à
qual ele reagiu e feriu um policial – e
o julgamento de Weidmann e sua
gangue haviam causado furor nos
jornais parisienses. Assim, quando
um grupo se juntou na Rua Georges
Clémenceau, em Versalhes, seu espí-
rito não era de ref lexão sombria so-
bre a força da lei. Eles assoviavam,
cantavam e provocavam o condena-
do. Quando a cabeça rolou, alguns se
aproximaram com lenços para mo-
lhar com o sangue, e levar como su-
venir. Fato curioso: detrás da janela
de um apartamento próximo, aos 17
anos, o ator britânico Christopher
Lee (famoso como Drácula e Saru-
man) presenciava a execução.
O presidente Albert Lebrun con-
siderou o espetáculo deprimente: a
ideia de uma execução pública era
inspirar medo e respeito à lei na po-
pulação. Convencido de que não era
definitivamente o caso, revogou as
execuções públicas. Dentro dos mu-
ros, condenados continuariam a ser
guilhotinados na França até 1977,
com a execução do estuprador e as-
sassino Hamida Djandoubi. A pena
de morte seria abolida em 1981.
EM 1939, A MORTE DE EUGEN WEIDMANN ACABOU COM UMA ERA
O fim do
espetáculo
da morte
A ÚLTIMA EXECUÇÃO PÚBLICA
58 | AVENTURAS NA HISTÓRIA
AH156_FH.indd 58 6/6/16 8:15 AM