(2017) Aventuras na História 164 - Fidel Castro (Ed. especial)

(AP) #1

E


nquanto pierrôs e colom-
binas brincavam nas ruas
de Santiago, no dia 24 de
julho de 1953, um grupo
formado por 162 jovens de classe mé-
dia chegava à cidade. Vinham da ca-
pital, Havana. Mas aquelas pessoas
não tinham viajado quase 800 quilô-
metros para pular o Carnaval (que,
em Cuba, acontece no meio do ano). O
objetivo era ambicioso: dar início a
uma revolução que derrubaria o dita-
dor Fulgêncio Batista. Liderados por
Fidel Castro, advogado recém-saído
da faculdade, então com apenas 26
anos, eles pretendiam invadir o quar-
tel Moncada – uma das maiores for-
talezas do Exército de Batista, perto
de Santiago. Os rebeldes instalaram-
se num sítio alugado a 20 minutos de
distância. E só sairiam de lá na alvo-
rada do dia 26, prontos para o ataque.
A data não foi escolhida ao acaso.
Fidel esperava surpreender os mili-
tares de Moncada, que provavelmen-
te estariam em clima de festa, talvez
até cansados por conta da folia de
Carnaval. Os rebeldes seriam dividi-
dos em quatro times, comandados por
ele próprio e por seu irmão, Raúl Cas-
tro, além de Abel Santamaría e Raúl
Martinez Ararás. Em investidas sin-
cronizadas, tomariam de assalto não
apenas o quartel e sua estação de rá-
dio mas também o Palácio da Justiça
e o Hospital Civil, ao lado da fortaleza
militar. Enquanto isso, outro grupo
rebelde iria se encarregar de impedir
que o Exército enviasse reforços, neu-
tralizando o quartel localizado em
Bayamo, um município vizinho.
No dia do ataque, tudo teria de
funcionar com absoluta precisão. Às
5 horas da manhã, todos deixariam o
sítio numa comitiva de carros, com
uniformes iguais aos dos soldados de
Batista. Fidel, a bordo de um Buick

verde alugado, placa 169-361, tentaria
se passar por general do Exército em
visita. Seria um dos primeiros a en-
trar em Moncada. E o faria em gran-
de estilo, pelo portão principal – onde
as sentinelas já teriam sido rendidas.
Assim que a rádio fosse ocupada, o
poeta Raúl Gómez García leria um
manifesto pedindo a volta da demo-
cracia e incitando a população à luta
armada. O passo seguinte seria dis-
tribuir as armas do quartel entre civis
dispostos a encampar a revolução.

Baixas além da conta
Depois de revelados os detalhes do
plano, poucas horas antes do início da
operação, pelo menos dez integrantes
do grupo decidiram pular fora, per-
cebendo o tamanho da encrenca em
que estavam prestes a se meter. Ou-
tros tantos, talvez 30 ou mais, decla-
raram-se incapacitados para a tarefa


  • ou porque estavam doentes, ou por-
    que as armas não eram suficientes
    para todos. Fidel Castro compreen-
    deu. Ele mesmo já tinha declarado a


seus comandados que aquela seria
uma missão suicida, e que não haveria
represálias para quem preferisse de-
sistir. Só não contava com tantas bai-
xas. Dos 162 rebeldes originais, agora
restavam menos de 120. E a batalha
nem tinha começado.
Quando o dia 26 de julho final-
mente começou a raiar, o que restou
do bando de Fidel já não se aguentava
de ansiedade. Tratava-se, porém, de
uma agonia com hora marcada para
acabar. Às 5 horas em ponto, teve iní-
cio a operação. E, logo de cara, dois
acontecimentos colocaram tudo a
perder. Os carros que levavam Fidel
Castro e seus camaradas não conven-
ceram no papel de “comitiva de gene-
ral”. Resultado: foram interceptados
antes de chegar ao quartel. O Buick
de Fidel acelerou e partiu para cima
de um grupo de soldados. Acabou
espatifando-se contra um muro, mas
o comandante conseguiu escapar.
No portão principal do quartel,
uma patrulha do Exército apareceu
justo na hora em que os rebeldes

Bandeira do
Movimento
fotos getty images e shutterstock 26 de Julho

AventurAs nA históriA | 13

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