entrada e a saída de mercadorias,
divisas ou o que fosse. O “Nanico”
também serviu de “embaixador”
quando outros mafiosos se estabe-
leceram na ilha. Os Trafficante, pai
e filho, influentes criminosos no
estado da Flórida, tornaram-se os
proprietários de um hotel-cassino
- o Sans Souci, na Rua 51, em Hava-
na. De quebra, enviavam cocaína e
heroína provenientes da Colômbia
para os Estados Unidos.
Batista permitiu que a máfia ga-
nhasse licença para abrir institui-
ções financeiras em Cuba. Don
Amadeo Barletta, um calabrês que,
na década de 1930, servira de “laran-
ja” para negócios do ditador italiano
Benito Mussolini, fundou o Banco
Atlantico S/A em Havana. E ganhou
uma concessionária da General Mo-
tors em Santiago. Antes tratados
como marginais, os mafiosos ga-
nharam súbita respeitabilidade na
ilha. “Eles passaram a usar colari-
nho branco e limparam o vocabulá-
rio. Viraram homens de negócios”,
escreve T. J. English.
A era Batista chegou ao ápice em
1952, quando Fulgêncio deu um gol-
pe de Estado e proclamou-se ditador.
Cuba, àquela altura, tinha o terceiro
maior PIB entre os países latino-
americanos. Mas as distorções so-
ciais e a inversão de valores eram
visíveis. A indústria da prostituição
gerava mais dinheiro que a exporta-
ção de frutas. Estima-se que 20 mil
prostitutas trabalhavam nas ruas e
cabarés de Havana, cidade campeã
de abortos na América. Em 1954,
também na capital,
um médico ganhava
90 pesos por mês. No
mesmo período, um
crupiê recebia 1,5 mil,
fora as gorjetas.
“Nosso homem em havaNa”
Ruben Fulgêncio Batista Zaldívar nasceu na província de Oriente, em
Cuba, no dia 16 de janeiro de 1901. Veio de uma família pobre: seus pais
eram macheteros, cortadores de cana. Tinha sangue negro, índio, branco
e, segundo a crença popular, até chinês. Em abril de 1952, a revista
Time estampou-o na capa, com uma estridente manchete: “Ditador!”.
Um mês antes, Batista liderara um golpe de Estado. Foi a formalização
de algo que todo mundo já sabia: entre 1933 e 1958, ele mandou e
desmandou na ilha, seja como presidente, seja como eminência parda.
Quando liderou uma revolta militar em 1933, tomando o poder
pela primeira vez, Cuba vinha de uma sucessão de presidentes
inoperantes ou sanguinários. Talvez por isso o golpe de estado
pareça não ter incomodado a elite cubana. O presidente americano,
Franklin Roosevelt, preferiu manter um pé atrás. “Melhor ficar de
olho nele”, telegrafou ao embaixador em Havana.
Nos anos seguintes à rebelião, Batista atuaria nos bastidores,
elegendo presidentes-fantoches e fuzilando adversários. Até 1940,
quando ele próprio foi eleito presidente para quatro anos de mandato.
Em 1952, novo golpe de Estado. A Constituição foi rasgada e o
Congresso, dissolvido. Tortura e perseguição política tornaram-se
práticas ainda mais comuns na ilha. Nesse período, o ditador teve
apoio irrestrito de Eisenhower, o presidente americano da vez. Fazia
sentido, afinal os dois odiavam comunistas. Mas veio a revolução
comandada por Fidel Castro. No dia 31 de dezembro de 1958,
Batista fugiu de Cuba e foi viver entre Portugal e Espanha, abrigado
pelos ditadores Salazar e Franco. Morreu em agosto de 1973.
LIVRO
Havana NocturneT. J. English, ,
William Morrow, 2008 (em inglês)
saiba mais
Fulgêncio
em viagem
oficial aos
Estados
Unidos,
em 1938
AventurAs nA históriA | 21
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