(2017) Aventuras na História 164 - Fidel Castro (Ed. especial)

(AP) #1
SEM COMUNICAÇÃO
O equipamento de rádio da embarca-
ção não funcionava direito. Recebia
as mensagens enviadas pelos agentes
da revolução infiltrados em Cuba,
encarregados de organizar atentados
em várias cidades na hora do desem-
barque. Mas não permitia que os pas-
sageiros do Granma respondessem.
Pouca velocidade e falta de comuni-
cação eram problemas sérios. Se a
travessia levasse mais tempo do que
o previsto, os ataques diversionários
teriam de ser retardados e, simples-
mente, não havia como falar com o
pessoal em terra. Por baixo dos pa-
nos, simpatizantes de Fidel Castro
movimentavam-se em várias cidades
para “recepcionar” o exército rebelde.
Na data marcada para o desembar-
que, 30 de novembro, Celia Sánchez


  • fundadora do Movimento 26 de Ju-
    lho – levou para o local 50 homens,
    caminhões, jipes, comida e armamen-
    tos. Enquanto isso, Frank País – ou-
    tro militante histórico do M-26-7 –
    preparava-se para atacar bases da
    polícia em Santiago de Cuba. O quar-
    tel Moncada, aquele mesmo da rebe-
    lião de 1953, também seria atacado,
    com o objetivo de distrair suas tropas
    e facilitar o deslocamento dos homens
    de Fidel até Sierra Maestra. Atenta-
    dos contra instalações militares e
    prédios públicos ocorreriam simul-


taneamente num punhado de cida-
des, de La Villas a Guantánamo.
Tudo parecia muito bem arranja-
do, mas o plano inteiro desandou por
causa de um rádio com defeito. Quan-
do os ataques começaram, no dia 30,
o Granma ainda estava a milhas e
milhas da costa de Cuba, perto das
Ilhas Cayman. O desembarque só
aconteceu no dia 2 de dezembro, e em
outro lugar, não na praia inicialmen-
te escolhida, em Niguero. Como foram
avistados por um helicóptero antes de
alcançar a orla, os guerrilheiros cer-
tamente seriam recebidos à bala, se
mantivessem o curso original. Aca-
baram seguindo para Las Coloradas,
cerca de 25 quilômetros mais ao sul.
Ali, a beira-mar era completamen-
te dominada por manguezais. E o
Granma ainda encalhou num recife
de coral, obrigando seus ocupantes a
descarregar o arsenal com um bote
salva-vidas. Foram tantas as dificul-
dades imprevistas que muitas armas
acabaram sendo perdidas durante a
operação. “Pense no lugar onde eles
desembarcaram”, diz Celia Sánchez
no livro The Twelve (Os Doze, sem
tradução para o português), sobre os
primeiros dias da Revolução Cubana.
“Se tivessem desembarcado na praia,
e não naquele mangue, teriam encon-
trado caminhões, jipes, gasolina.
O resto seria um passeio.”

A marcha dos 82 guerrilheiros
para Sierra Maestra, onde estariam
protegidos pela mata e pelo acesso
difícil, pode ter sido tudo, menos um
passeio. Para começar, um morador
da região de Las Coloradas viu o de-
sembarque e avisou a polícia. Não
demorou quase nada e dois helicóp-
teros das forças de Fulgêncio Batista
já estavam na captura dos invasores.
Por horas, os rebeldes esquivaram-se
chafurdando no mangue, às vezes,
com lama na altura do peito.
No dia seguinte, o primeiro “anjo
da guarda” apareceu: Tato Vega, um
lavrador que serviria de guia até as
montanhas de Sierra Mestra. A ideia
era montar acampamento na mata,
conquistar o apoio do povo e recrutar
mais guerrilheiros entre os campo-
neses. Com ataques frequentes a ins-
talações do Exército, os rebeldes
iriam se abastecer de armas e muni-
ção. Passariam a controlar uma área
do território cubano ao redor das
montanhas. E ampliariam esse do-
mínio progressivamente, até abrir
caminho para o avanço final até Ha-
vana e a deposição do ditador. Repe-
tiriam o caminho percorrido por José
Martí e seus homens na guerra da
independência de Cuba, em 1895.

preparava-se para atacar bases da
polícia em Santiago de Cuba. O quar-
tel Moncada, aquele mesmo da rebe-
lião de 1953, também seria atacado,
com o objetivo de distrair suas tropas
e facilitar o deslocamento dos homens
de Fidel até Sierra Maestra. Atenta-
dos contra instalações militares e
prédios públicos ocorreriam simul-

operação. “Pense no lugar onde eles
desembarcaram”, diz Celia Sánchez
no livro The Twelve (Os Doze, sem
tradução para o português), sobre os
primeiros dias da Revolução Cubana.
“Se tivessem desembarcado na praia,
e não naquele mangue, teriam encon-
trado caminhões, jipes, gasolina.
O resto seria um passeio.”

mínio progressivamente, até abrir
caminho para o avanço final até Ha-
vana e a deposição do ditador. Repe-
tiriam o caminho percorrido por José
Martí e seus homens na guerra da
independência de Cuba, em 1895.

FOTO SHUTTERSTOCK


AVENTURAS NA HISTÓRIA | 29

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