repercussão, não apenas pelo seu conteúdo desonesto, que omite o
catastrófico apagar das luzes do governo Dilma Rousseff, mas também
pela figura que Lula escolheu para assiná-lo: Guido Mantega.
Mais longevo ministro da Fazenda da era petista (comandou a pasta de
2006 a 2014), Mantega ressurgiu na cena política como porta-voz do
petismo em uma série de artigos sobre economia que o jornal Folha de S.
Paulo solicitou aos principais presidenciáveis. O texto ataca a “herança
maldita” que será deixada pelos “governos Temer e Bolsonaro” e defende
um modelo intervencionista, controlando os juros e estimulando “políticas
industriais”. Nenhuma linha foi dedicada a explicar a pior recessão da
história, iniciada ainda em 2014 e marcada pela grave retração do PIB sob
Dilma Rousseff. Adversários de Lula na corrida ao Planalto, como Sergio
Moro e Ciro Gomes, criticaram duramente o artigo e até lulistas de
carteirinha caçoaram da peça de Mantega. “Oxalá seja apenas mal-
assombração!”, escreveu o deputado Orlando Silva, do PCdoB, que
também foi ministro nos governos de Lula e Dilma.
Lideranças petistas passaram os últimos dias explicando a opção
por Mantega como porta-voz econômico da candidatura de Lula.
Venderam como uma espécie de alento a tese de que, apesar de encarnar
a ideologia desenvolvimentista do petismo, o ex-ministro foi escolhido
porque já se sabe que ele não voltará à Esplanada dos Ministérios em um
eventual novo governo do PT. “Qualquer outro nome geraria especulação
de que poderia ser o ministro da Fazenda do Lula”, diz um dirigente
petista. O fato é que a síntese do plano econômico de Lula, que visa a
acabar com o teto de gastos públicos e revogar a reforma trabalhista,
está presente no artigo de Mantega e é fruto de conversas semanais que
o ex-ministro manteve durante a pandemia com os economistas Luiz
Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto, dois outros conselheiros de Lula na
área – às sextas-feiras, eles costumavam se falar por videoconferência na
hora do almoço, para conversar sobre o cenário econômico e alinhavar
ideias a serem oferecidas ao chefe petista.